Longe do paraíso
A crítica ao individualismo da sociedade de consumo, assente no entorpecimento via fast food ou má dieta televisiva, está longe de ser um tema original. Mas os POP. 1280 não estão muito preocupados com isso e fazem do caos social a questão-chave do seu novo álbum, "Paradise" (título obviamente irónico), evolução na continuidade dos antecessores "The Horror" (2012) e "Imps of Imperfection" (2013).
Uma falta de fé na humanidade tão extrema, disparada em ambientes industriais e pós-punk do mais cavernoso, já vem de outros discos, desde os dos habitualmente comparados Birthday Party, com um pouco esperançoso jovem Nick Cave, aos menos lembrados Pop Group de Mark Stewart, de quem o vocalista Chris Burg também se aproxima nestas canções (ou, às vezes, meros estilhaços sonoros entre paisagismo drone e sujidade noise).
O quarteto nova-iorquino classifica a sua música como cyberpunk e essa ligação vai mais longe na estética de alguns videoclips, como o mais recente. "PHANTOM FREIGHTER" poderia confundir-se com o making of de um filme que David Cronenberg deixou por fazer em meados dos anos 80, com memórias VHS e atmosfera urbana gótica tão despojada como a canção, a remeter para a EBM de uns Nitzer Ebb mais lo-fi. Ainda assim, destaca-se como uma das faixas mais directas e imediatas de um álbum que, tal como os primeiros, insiste em não facilitar. Haja tempo para o conhecer a fundo...