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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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Mudar de vida

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"I think we can change", repete ANIKA em "CHANGE", faixa-título e tema-chave do seu segundo álbum. E ela própria não tem sido avessa à mudança em vários momentos e âmbitos, como quando trocou o percurso de jornalista pela música ou fez as malas de Bristol para Berlim, onde tem vivido há mais de uma década. Foi, aliás, na capital alemã que a britânica gravou o novo disco, também ele alvo de vários processos de mudança ao longo da concepção, vincada por imprevistos e acessos de ansiedade.

"CHANGE" marca a estreia do projecto de Annika Henderson na ilustre Sacred Bones Records e, ao contrário do antecessor, o já distante registo homónimo (de 2010), teve como cúmplice Martin Thulin, elemento dos Exploded View (banda da qual a cantautora faz parte) que assumiu aqui as funções de co-produtor e músico, ocupando-se do baixo e da bateria. "Anika", por outro lado, tinha contado com os créditos de Geoff Barrow (dos Portishead e BEAK>) na produção, que ajudaram a gerar algum burburinho em torno do álbum.

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A faixa-título, que já tinha sido um dos singles de avanço, denuncia logo algumas das mudanças deste regresso. O tom afectuoso e as palavras de esperança ensaiam uma aproximação à pop que dificilmente se adivinharia na ANIKA de há dez anos (ou no EP homónimo de 2013), mesmo que boa parte do alinhamento continue a assentar num registo lacónico e enigmático, muitas vezes comparado ao de Nico. Mas há mais vozes e personalidades femininas sugeridas nas primeiras audições de "CHANGE", sobretudo a partir de uma combinação de canto e spoken word nada alheia à escola de Kim Gordon (com ou sem os Sonic Youth) ou das menos lembradas Anita Lane (na faceta mais vamp) e Anne Clark (tanto nos episódios mais urgentes como nos meditativos).

Outros singles promissores, "Finger Pies" e "Rights" também faziam antever um alinhamento menos esparso e mais imediato do que o da estreia, suspeita confirmada num conjunto de canções ao qual o rótulo de difícil segundo álbum não se aplicará.

Embora tenha demorado, "CHANGE" parece chegar na altura certa, sobretudo quando, além da possibilidade (ou necessidade) de mudança, adopta uma postura assertiva e abraça o empoderamento (feminino e não só) sem agitar bandeiras, às vezes até com algum sentido de humor ("I always give my man the last word/ I always give him what he deserves/ But don't forget that little twist/ Of cyanide in his little gift", entoa a britânica em "Critical", em modo femme literalmente fatale).

Conciso e talvez mais coeso do que o antecessor, é um disco que alarga a paleta sonora ao conjugar heranças da new wave, do krautrock ou até do industrial (ouça-se a marcha obstinada de "Naysayer") numa indietronica versátil que leva a aceder à sugestão de ANIKA na faixa-título. "We could do well to a listen sometimes", aconselha. No caso de álbuns como este, uma audição atenta dificilmente será tempo perdido...