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Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Nove noites, cinco filmes (mas há muitos mais)

O QUEER LISBOA celebra 25 anos a partir desta sexta-feira, 17 de Setembro, no Cinema São Jorge e na Cinemateca Portuguesa. Até dia 25, entre clássicos e novidades, há dezenas de filmes que partem do desajuste da (in)formação identitária ou da subversão dos cânones, algumas pistas da programação desta edição. Para começar, ficam cinco sugestões...

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Apesar de contar com uma aposta assinalável em estreias, a 25.ª edição do Festival Internacional de Cinema Queer começa e termina com a revisitação de dois filmes LGBTQIA+ emblemáticos: "Querelle - Um Pacto com o Diabo", o misto de cor, provocação e (homo)erotismo do alemão Rainer Werner Fassbinder, a abrir; e "The Watermelon Woman", da libero-americana Cheryl Dune, a fechar - e a propor algo completamente diferente, numa comédia romântica lésbica indie assinada por uma mulher negra que se tornou referência do New Queer Cinema nos anos 90.

Outro destaque, na despedida, é a actuação dos Noporn, a recomendável dupla brasileira que iniciou há poucos dias a sua primeira digressão em palcos portugueses e assinou, há uns anos, as bandas sonoras de "Beira Mar" e "Tinta Bruta", de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, que passaram pelo festival. E são as canções desses filmes que vão poder ser ouvidas ao vivo no dia 25, no São Jorge.

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Gus Van Sant também está entre os convidados e não só vai ser alvo de uma retrospectiva (que inclui "A Caminho de Idaho" ou "Elephant") como tem "carta branca" para programar a Cinemateca - onde estará presente para uma conversa com o público.

O 25.º ano não dispensa as secções que já se tornaram habituais (as competições de Longas, Curtas, Documentários, "In My Shorts" e Queer Art, além da Panorama e Queer Focus) e embora não seja a edição mais recheada - propõe 76 filmes, mas já ultrapassou os 100 em algumas das anteriores -, continua a deixar motivos para o acompanharmos nos próximos dias. Por aqui, a aposta inicial vai para as cinco novidades abaixo (e entretanto o próximo Queer Porto também já está assegurado, em Outubro):

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"FIN DE SIGLO", de Lucio Castro: Três encontros, dois homens, uma história de amor... ou pelo menos de alguma cumplicidade. Elogiada nas exibições em festivais internacionais desde a estreia, em 2019, a primeira longa-metragem do realizador argentino (depois de duas curtas) centra-se na relação de um escritor e de um realizador que se cruzam em períodos distintos, mas sempre em Barcelona - e cujos contactos esbatem a fronteira entre o real e o imaginário. Drama descrito como simultaneamente caloroso e misterioso, tem sido comparado tanto à trilogia "Before", de Richard Linklater, como a "Weekend", de Andrew Haigh (que também passou pelo Queer Lisboa), ou ao enigmático "A Cidade de Sílvia", de José Luis Guerín. Todos eventuais parentes próximos bem estimáveis, portanto...

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"LA NAVE DEL OLVIDO", de Nicol Ruiz: Retratos femininos no cinema ainda não são assim tão habituais. Do envelhecimento no feminino, ainda menos. E com mulheres queer de meia-idade, então, são praticamente uma raridade. Só isso já torna singular esta primeira obra da realizadora chilena, drama centrado numa viúva do interior do seu país que conhece uma mulher intrigante pouco depois da morte do marido. E através dela, pode talvez começar a redescobrir-se e a iniciar um novo capítulo, apesar da comunidade fechada da qual faz parte. Talvez esteja aqui uma das surpresas da secção competitiva de longas-metragens...

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"LAS FLORES DE LA NOCHE", de Eduardo Esquivel & Omar Robles: O foco na amizade e na identidade guia o mais recente documentário de uma dupla mexicana que também tem experiência nas curtas-metragens. Foi, aliás, a uma delas, "Uriel y Jade" (2016), que Esquivel e Robles foram buscar inspiração (e alguns retratados) para uma crónica na qual regressam a uma pequena vila do interior do México. Mas em vez do olhar muitas vezes vitimizado de um ambiente conservador, celebram as vivências trans de um grupo de jovens locais, mesmo quando um dos elementos começa a frequentar um núcleo religioso que defende a terapia de conversão. Contextos inconciliáveis? Talvez nem tanto...

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"MINYAN", de Eric Steel: A primeira aventura na ficção de um realizador que assinou dois documentários (incluindo o popular "The Bridge", sobre o suicídio na ponte Golden Gate, em São Francisco) e que também passou pela produção (em "Por Um Fio", de Martin Scorsese, ou "As Cinzas de Ângela", de Alan Parker), conta a história de um jovem imigrante judeu russo em Brooklyn, nos anos 80, e a forma como lida com a sexualidade e a fé numa comunidade repressiva. Mas aos poucos o protagonista vai encontrando alguns portos de abrigo: na literatura de James Baldwin, num bar gay local ou na relação de amizade que estabelece com dois homossexuais idosos não assumidos. Já o primeiro drama do norte-americano teve bom acolhimento em festivais como o de Berlim, do qual saiu com duas nomeações no ano passado, incluindo para um Teddy Award.

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"SEDIMENTOS", de Adrián Silvestre: A nova obra do realizador de "Los Objectos Amorosos" é uma das apostas deste ano depois de esse drama ter conquistado o prémio de Melhor Filme do Queer Lisboa em 2017. Se aí experimentou a ficção num formato de longa-metragem, aqui o realizador espanhol retoma o formato documental, já explorado numa curta, para acompanhar a viagem de seis mulheres trans no interior do seu país. Entre cenários imponentes e as personalidades contrastantes dos elementos do grupo, a jornada promete aliar a tradição à transgressão - e parece temperada por doses generosas de humor e delicadeza.

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