Novos capítulos de um pós-pranto imparável
Se há artista que se tem mantido imparável durante o (des)confinamento, é LETRUX. Além da edição do segundo álbum, "Letrux aos Prantos", no ano passado, a brasileira lançou nos últimos meses o EP "Prantos Pandémicos", com versões alternativas de alguns temas do disco, e tem revelado composições há muito no baú e nunca antes gravadas - caso da óptima "I'm Trying to Quit" e "Isso Aqui É Um Campo Minado", às quais se juntaram "Sai da Minha Cabeça" e "We're All Alone Together". E pelo meio ainda houve tempo para uma colaboração com Mulú na muito dançável (e irresistível) "Me Espera", aproximação inesperada à house francesa.
Mas as novidades também têm chegado através da imagem, cada vez mais camaleónica e com uma montra privilegiada nos videoclips. Invariavelmente protagonizados pela própria Letícia Novaes, têm dois exemplos da expansão do seu universo visual através dos singles mais recentes, "CONTANDO ATÉ QUE" e "CUIDADO, PAIXÃO".
Canções sintomáticas de um disco de contrastes, a primeira é das mais efusivas e o videoclip mostra LETRUX em modo femme fatale, ou a sua versão carioca de uma femme fatale (com qualquer coisa das 'chicas' de Almodóvar à mistura) pelas ruas do Rio de Janeiro, à noite, ou emaranhada em teias escarlate num espaço fechado - à medida do tom rasgado do tema e inspirada pelas energias do signo Escorpião.
Menos flamejante, embora não menos intenso, o videoclip de "CUIDADO PAIXÃO" acompanha um dos momentos mais bonitos do álbum (sobretudo quando entra em cena um coro no final, aproximando-o da herança do samba) com uma atmosfera circunspecta, surreal e teatral. Entre piscadelas de olho à obra de David Lynch (e a "Twin Peaks" em particular) e a cantora a vestir a pele de várias personagens, é talvez o capítulo mais cenicamente elaborado deste percurso. 2022 promete muito por estes lados...