O estado das coisas
À medida que Donald Trump e o Brexit foram conquistando seguidores, foram também alimentando reacções (quase sempre negativas) no universo das artes. A famigerada última noite dos Óscares é um dos exemplos mais recentes e mediáticos, mas a música tem sido outro terreno permeável a contaminações políticas que tanto marcam estrelas pop globais como nomes de esferas mais restritas.
"Change of State", o novo álbum dos NOVELLA, não sendo propriamente composto por canções de intervenção, resulta das viagens que o quarteto londrino fez pelo Reino Unido no ano passado, através das quais testemunhou um ambiente de tensão social e ideológica que é parte da matéria-prima de um alinhamento igualmente inspirado pela escrita de Haruki Murakami, JG Ballard ou Kurt Vonnegut.
Mas se a liberdade de expressão foi o mote do disco, musicalmente o sucessor de "Land" (2015) não está tão interessado em registar o ar do tempo. A banda não foge à combinação de krautrock, shoegaze, indie pop e texturas psicadélicas de temas como "Land Gone" nem esconde o peso de discos dos Stereolab ou Lush enquanto lembra nomes mais recentes, na linha dos também algo anacrónicos Blouse e Veronica Falls (não por acaso, James Hoare, o vocalista e guitarrista destes últimos, foi um dos produtores).
Felizmente, a consistência instrumental, rítmica e melódica, também se mantém intacta e chega para compensar a relativa falta de risco de momentos como "CHANGE OF STATE", o novo single, com o videoclip a reforçar o conforto de uma banda a jogar em casa - mas atenta ao que se passa lá fora: