Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

O fim do mundo em collants

Embora seja um final digno para a segunda trilogia dos mutantes, "X-MEN: APOCALIPSE" fica aquém dos capítulos anteriores e acaba por dar razão a um comentário de Jean Grey: neste caso, o terceiro filme é mesmo o pior.

 

x-men_apocalipse

 

Bryan Singer terá sempre um papel importante na transposição de super-heróis da BD para o cinema. Afinal, os seus dois primeiros filmes centrados na equipa do Professor Xavier provaram que havia esperança para o género quando as aventuras carnavalescas de Batman, dirigidas por Joel Schumacher, ainda estavam bem presentes e deixavam traumas à grande maioria dos fãs. Também é verdade que o que então foi um gesto arriscado transformou-se em tendência e na actual galinha dos ovos de ouro de Hollywood, mas o regresso do realizador de "Os Suspeitos do Costume" ao universo mutante, com "X-Men: Dias de um Futuro Esquecido", não desiludiu, mesmo que o melhor capítulo da saga tenha sido assinado por Matthew Vaughn - o antecessor "X-Men: O Início", uma lição de como fazer uma prequela.

 

"X-MEN: APOCALIPSE" vem agora fechar o ciclo e até nem o faz mal, apesar de realçar alguns problemas dos anteriores - como a overdose de personagens ou a previsibilidade do terceiro acto - sem juntar grandes ingredientes que lhe concedam especial valor acrescentado. Há caras novas, e vale a pena conhecer algumas, mas na essência esta continua a ser a história de Magneto, Xavier e Mística, o que nem sempre é uma vantagem. Se por um lado esse núcleo duro assegura a coerência narrativa da trilogia, as relações entre as personagens de Michael Fassbender (excelente, como sempre), James McAvoy (seguro, mais uma vez) e Jennifer Lawrence (mais apagada do que nos anteriores) já têm pouco da tensão inicial e parecem andar em círculos.

 

O final, por exemplo, tem uma ligeireza que faz tábua rasa ao que ficou para trás - com destaque para várias cidades transformadas em pó ou uma cena em Auschwitz a deixar sérias reservas - e torna os conflitos do trio protagonista meio indiferentes e inconsequentes. Mas se as motivações de Magneto parecem arbitrárias a partir de certa altura, as do verdadeiro vilão de serviço, Apocalipse (Oscar Isaac a fazer o que pode), são ainda mais vagas, sobretudo as que levaram à escolha dos seus cavaleiros: supostamente os mutantes mais poderosos do mundo, na prática uma Psylocke risível e um Anjo/Arcanjo igualmente frustrante - o caso dela é especialmente penoso depois de tanto alimentar de expectativa por parte de Olivia Munn (aqui em modo cosplay com ar de frete) e do material promocional.

 

x-men_apocalipse_2

 

A nova Tempestade, encarnada por Alexandra Shipp, também não convence muito e fica-se pela ligeira melhoria em relação à de Halle Berry. Mas a culpa nem é da actriz, já que não tem propriamente uma personagem para explorar. Mais promissores são os novos Ciclope e Jean Grey, embora Tye Sheridan seja capaz de muito melhor do que o que lhe dão e Sophie Turner nunca chegue a fazer esquecer Sansa Stark.

 

Com tantas figuras para seguir, "X-MEN: APOCALIPSE" perde boa parte do tempo com introduções e referências a episódios anteriores, o que nem seria grande problema se a recta final entusiasmasse e surpreendesse. Mas a solução Deus ex machina é demasiado fácil e Singer escorrega nos efeitos especiais da destruição em massa, não conseguindo disfarçar o excesso de CGI e ficando aquém da desenvoltura de sequências anteriores - como um confronto entre Anjo e Nocturno (pena que Kodi Smit-McPhee tenha tão pouco para fazer) ou o momento de descompressão a cargo de Mercúrcio (versão revista e melhorada daquele que Peter Evans protagonizou no filme anterior, com a vantagem de ser menos gratuita e de a sua personagem justificar a presença nesta história).

 

Este capítulo final olha, de resto, demasiadas vezes para trás, e se integrado na trilogia até funciona, enquanto objecto isolado tem mais dificuldades em fazer-se valer. Até a atmosfera dos anos 80, depois das das décadas de 60 e 70 nos capítulos anteriores, fica aquém do potencial, e se não fossem alguns pormenores ocasionais (um genérico de TV, o penteado à Martin Gore de Anjo) a acção poderia desenrolar-se nos dias de hoje. Neste aspecto, algumas das cenas cortadas (cerca de meia hora de material) talvez pudessem ter feito a diferença - como as que mostram Ciclope, Jean Grey, Nocturno e Jubileu (esta mais cameo do que personagem) no centro comercial, à partida mais interessadas em explorar as relações entre os X-Men do que em fazer o argumento andar.

 

Sente-se falta desse lado humano aqui, ainda que haja boas ideias a pairar no meio do caos, como o facto de Mística ser uma referência para os heróis mais jovens devido ao seu "coming out" mutante em frente às câmaras, uma daquelas pontes com a realidade que ajudaram distinguir a Marvel e esta equipa em particular. Nada que não possa ser repensado numa eventual (ou quase certa) nova trilogia, até porque não faltam mutantes à espera de vaga no grande ecrã...