O que é que a italiana tem?
A 14.ª edição da FESTA DO CINEMA ITALIANO já arrancou e pertence quase inteiramente às mulheres, que vão estar em destaque em várias salas do país nas próximas semanas. Entre novidades e clássicos, há muitas a (re)descobrir.
Sophia Loren, Monica Vitti, Anna Magnani e Claudia Cardinale são algumas das divas do cinema italiano homenageadas ao longo de Novembro, numa edição que, apesar de tudo, foi inaugurada com um filme de um realizador: "Três Andares", o novo de Nanni Moretti, que chega esta quinta-feira ao circuito comercial português.
Além delas, a Festa do Cinema Italiano recorda a cantora Rafaella Carrà, não só com uma comédia musical mas também através de uma festa temática Italo Disco, e as mulheres estão ainda em foco (e algumas também atrás das câmaras) em boa parte das estreias da programação deste ano, que esta semana passa por Lisboa, Porto, Coimbra, Beja, Cascais, Alverca e Penafiel.
Na capital, há muita oferta diária até dia 10 de Novembro, no São Jorge, Cinemateca, Nimas, El Corte Inglés e Culturgest. E pelo menos parte dela merece atenção, como o sugerem as cinco propostas abaixo, todas novidades e maioritariamente no feminino, ordenadas pela data de exibição:
"MAGARI", de Ginevra Elkann: Alba Rohrwacher e Riccardo Scamarcio costumam ser bons motivos para se prestar atenção a um filme, mas não falta quem garanta que há outros nesta primeira obra revelada no Festival de Locarno em 2019. Contada pela perspectiva de uma menina de oito anos, é um retrato de desagregação familiar dado em tons de comédia dramática, que arranca quando três irmãos que vivem com a mãe, em França, vão passar uma temporada italiana com o pai.
"SHOOTING THE MAFIA", de Kim Longinotto: A máfia continua a ser indissociável de algum cinema italiano, e nem sempre através da ficção. Neste caso, a ligação faz-se com um olhar documental focado na siciliana Letizia Battaglia, fotojornalista cuja carreira foi atravessada pelos efeitos da Cosa Nostra na sua comunidade. Assinado por uma realizadora britânica com uma longa experiência nos documentários, o filme cruza fotografias a preto-e-branco, filmagens de arquivo raras, filmes clássicos italianos e memórias da fotógrafa. Battaglia estará presente na sessão (no Nimas) e tem ainda uma exposição de entrada livre com o fotógrafo Roberto Timperi ("Mafia Passione… Amore", na Casa do Capitão).
"PICCOLO CORPO", de Laura Samani: Estreada na Semana da Crítica do Festival de Cannes, esta primeira obra que decorre na Itália de 1900 traça a jornada de uma jovem mãe cuja bebé nasceu morta e que, de acordo com a sua comunidade, está condenada ao Limbo por não poder ter sido baptizada. A menos que possa ser ressuscitada momentaneamente, num lugar distante, o que leva este drama a ganhar traços de road movie à medida que a protagonista viaja com a filha para salvar a sua alma.
"NEVIA", de Nunzia De Stefano: Produzida por Matteo Garrone, a estreia de uma autora que foi assistente de realização do cineasta em "Dogman" (2018) é uma história de mulheres num bairro de homens. No caso, de uma adolescente e da sua irmã, tia e avó nos surbúrbios de Nápoles. Mas a protagonista talvez não fique por lá muito mais tempo, já que tenta juntar-se a um circo que chega à cidade, a única saída que encontra para uma vida que parece destinada ao crime - e ponto de partida para um drama que junta realismo e esperança.
"LA SCOMPARSA DI MIA MADRE", de Beniamino Barrese: Depois de ter sido a primeira italiana a posar para a Vogue americana, além de musa de Andy Warhol ou Salvador Dalí, Benedetta Barzini sujeita-se a outro olhar masculino: o do filho, que aqui se estreia na realização após um percurso já considerável como director de fotografia. Entre memórias que recuam ao seu auge como modelo, nos anos 60, e à postura activista e feminista que se seguiu, o documentário deixa ainda o relato de uma ligação familiar que aqui também se torna profissional - para o melhor e para o pior, disseram reacções entusiastas à estreia do filme no Festival de Sundance de 2019. Tanto a protagonista como o realizador estarão presentes nas sessões lisboetas.