Oh não! Outro filme de terror com adolescentes
O fenómeno surpreende, o filme nem por isso. Antes pelo contrário: "NEM RESPIRES" é mesmo das estreias mais frustrantes da temporada.
Custa a perceber o fenómeno em torno de "NEM RESPIRES", a ponto de fazer da segunda longa-metragem de Fede Alvarez (com Sam Raimi na produção) uma das surpresas das bilheteiras norte-americanas, concedendo-lhe ainda honras de abertura do MOTELX há poucos dias.
Até porque o muito apregoado ambiente de terror é algo que pouco se encontra por aqui, uma vez que a tentativa de assalto, por parte de três amigos, à casa de um veterano de guerra cego fica-se mais pelo thriller urbano com óbvia vénia a David Fincher. Mas não só o realizador uruguaino segue sobretudo os moldes de "Sala de Pânico", um Fincher relativamente menor, como fica muito aquém do prodígio técnico desse filme e de momentos de antologia como o genérico inicial - mesmo que o orçamento não seja comparável e que a câmara até se mova por dentro da casa com eficácia, em especial nas cenas da invasão.
Se a filmar Alvarez ainda mostra alguma desenvoltura, em tudo o resto "NEM RESPIRES" raramente consegue cumprir os mínimos, com a desvantagem de ir piorando à medida que vai avançando. Os aparentemente escorreitos 88 minutos de duração parecem esticar-se, com alguma margem, quando a acção vai acumulando uma série de situações-limite que quebram qualquer hipótese de suspense palpável, tornadas ainda piores quando o destino do trio de assaltantes é telegrafado logo aos primeiros minutos. E falando neles, fica difícil aderir a um filme com uma construção de personagens tão débil (a destemida, o bad boy, o sonso), estereótipos ao nível do retrato social de Detroit no arranque - a cena com a família da protagonista faz "8 Mile" parecer um prodígio de realismo.
Os actores também não ajudam muito, sobretudo a jovem dupla masculina, e se Stephen Lang até compõe um antagonista credível, o argumento espalha-se decididamente ao comprido na recta final, ao caracterizá-lo de forma a que o espectador torça sem reservas pelos invasores. Só que aí acaba por ser mais tentador torcer pelo final rápido, qualquer que ele seja, de um thriller que vai oscilando entre o redundante (há cenas que parecer tiradas de um livro de estilo de um suposto filme de sustos, pela enésima vez) e o irritante (a banda sonora que raramente dá tréguas quando o silêncio seria a melhor opção, "ressuscitações" insultuosas).
Dada a overdose de lugares comuns, poderia pelo menos haver aqui alguma ironia, alguma irrisão, mas nada disso: "NEM RESPIRES" leva-se tremendamente a sério e só dá vontade de regressar a "A VISITA", outro filme recente que fechou velhos e novos numa casa, ao longo de uma noite terrível, e que acerta em tudo o que não resulta aqui. M. Night Shyamalan, volta (mais uma vez) que estás perdoado quando as alternativas do momento são surpresas destas...