Os cinco estarolas (e uma aventura a meio gás)
O nível de expectativa em relação à maioria dos blockbusters de Verão - e aos deste em particular - anda tão em baixo que um divertimento razoável como "Guardiões da Galáxia" parece ganhar logo direito a ser celebrado, seja nas bilheteiras ou por boa parte da crítica. Tanto melhor para a Marvel, cuja aposta em James Gunn, escolha pouco óbvia e que alguns consideraram arriscada, não só foi um trunfo como já garantiu uma sequela.
O realizador norte-americano tinha demonstrado em "Slither - Os Invasores" (2006) e "Super Quê?" (2010) que os ambientes de série B e de super-heróis, respectivamente, não lhe eram estranhos, e esta adaptação de um grupo de personagens cósmicas e marginais da BD deve muito a essas linhagens.
Mas é pena que Gunn nunca consiga manter um tom ao longo de duas horas irregulares, indecisas entre o saudável desvario de uma aventura paródica, acção pouco mais do que rotineira (sobretudo na recta final) e momentos dramáticos intrusivos, ainda mais forçados do que as recorrentes tentativas de humor (estas a variar entre o habilidoso, em alguns jogos de linguagem divertidos, e o aparvalhado, como numa péssima e decisiva cena da batalha final que quase deita o filme abaixo).
Se é verdade que "Guardiões da Galáxia" não se leva tão a sério como outras adaptações de super-heróis, o que só lhe fica bem quando tem um guaxinim ou uma planta antropomorfizados entre as personagens, também não chega a ser a viagem delirante que os seus melhores episódios sugerem - Guillermo del Toro, por exemplo, saiu-se bem melhor a combinar excentricidade, ironia e acção na saga de Hellboy, em especial no segundo filme.
O que começa como uma perseguição ágil que vai juntando cinco anti-heróis com personalidades contrastantes - e doses generosas de mau feitio, irresponsabilidade e oportunismo - acaba formatado por uma ode à união e à amizade que perde a graça quando vai acumulando sequências melosas, tão artificiais como a colecção de extraterrestres. O argumento episódico e genérico não ajuda muito e é basicamente uma desculpa para entrecruzar o quinteto e explorar a sua dinâmica. Pelo caminho ficam algumas boas ideas, como a mixtape de canções foleiras dos anos 70 guardada religiosamente pelo protagonista, embora até esta se esgote ao fim de duas ou três cenas.
Chris Pratt e Zoe Saldana têm carisma, desenvoltura, química e fazem o que podem com as duas personagens que mais resistem à caricatura, mesmo que não consigam resistir às imposições românticas do argumento, também elas a expor a mão pesada do lado dramático. Já Glenn Close, Benicio Del Toro, John C. Reilly, Djimon Hounsou ou Josh Brolin são reduzidos a cameos de luxo, apesar de tudo com mais presença do que Lee Pace, vilão baço a lembrar uma personagem descartável de "He-Man" e não tanto a versão de Ronan, o Acusador da BD, mais ambígua e intrigante. Mas nem era preciso a ameaça ser fraca para adivinhar como termina esta jornada, por muito que Gunn tente enganar-nos com perigos ao virar do planeta...