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Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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Os soldados da fortuna

O melhor filme da Marvel? Não falta quem garanta que "CAPITÃO AMÉRICA: GUERRA CIVIL" merece essa distinção, mas há pouco cinema por aqui - por muito que a máquina esteja bem oleada e tenha eco bem expressivo nas bilheteiras.

 

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Quem se queixa da overdose de super-heróis no cinema tem no novo filme da Marvel um bom pretexto para reclamar mais. Não é que a terceira aventura de Capitão América no grande ecrã seja um atentado ao género, mas por esta altura sobra pouco do encanto da primeira e da relativa ousadia da sequela.

 

Nenhum dos filmes anteriores era um título especialmente marcante, mas pelo menos sabiam o que queriam ser. "CAPITÃO AMÉRICA: GUERRA CIVIL" fica indeciso entre um "Vingadores: Guerra Civil" ou um "Capitão América: O Soldado do Inverno 2" enquanto ainda tem de encaixar pelo menos dois novos super-heróis com aventuras em nome próprio já confirmadas: Pantera Negra, cuja introdução até faz algum sentido na narrativa, e o muito aguardado Homem-Aranha, enfiado a martelo numa batalha que já seria problemática sem a presença estapafúrdia de um adolescente sem experiência em campo.

 

Em vez do caos com ressonâncias trágicas da saga da banda desenhada que inspirou o filme, a guerra civil do grande ecrã é basicamente um treino descontraído entre amigos, mera desculpa para uma demonstração vistosa de efeitos especiais e uma colecção de piadinhas de sitcom. Pior é que, como noutros momentos do filme, o argumento se lembre de se tornar sério nas sequências seguintes, pedindo que nos preocupemos com personagens que não se deu ao trabalho de desenvolver. Chega a ser triste ver actores como Don Cheadle ou Daniel Brühl tão desperdiçados, o primeiro reduzido a mais um figurante entre muitos, o segundo a vilão de serviço (outro tiro no pé da Marvel neste departamento) que se limita a unir os pontos da acção (e logo com um plano inacreditavelmente rebuscado e inverosímil, mesmo já dando o desconto de ser utilizado num filme de super-heróis).

 

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Anthony e Joe Russo continuam a ser tarefeiros que gerem os recursos com eficácia mas sem traços de personalidade. Não fossem os uniformes das personagens, apesar de tudo icónicos, e tudo neste blockbuster seria genérico, da fotografia à banda sonora, da realização à narrativa, ainda que as suas duas horas e meia não cheguem a maçar e sejam ocasionalmente promissoras.

 

O dilema moral lançado ao início, sobre o papel dos vigilantes e a forma como podem (ou não) ser controlados, é chutado para canto quando os argumentistas preferem dar protagonismo a Bucky, mais uma vez uma personagem baça (o actor não ajuda), mais uma vez sujeita a controlo mental, mais uma vez com uma ligação emocional ao Capitão América que o filme não sabe como construir. Steve Rogers é, de resto, mais arrogante e até hipócrita nesta aventura do que em qualquer outra no cinema até agora, atitude que dinamita a simpatia que a interpretação de Chris Evans tinha acumulado. 

 

Cinema desta categoria chega, aliás, a perder na comparação com a televisão e nem é preciso ir além da que também se concentra em super-heróis. Alguns episódios de "Agents of S.H.I.E.L.D." são francamente mais imaginativos e não temem colocar as suas personagens em risco (afinal, não precisam de as guardar para os próximos filmes). E uma cena no apartamento de Matt Murdock em "Demolidor" consegue ter uma atmosfera mais palpável e envolvente do que este desfile de perseguições e reviravoltas (ainda que tudo acabe mais ou menos como estava no início). Melhor filme da Marvel? Nem sequer é o melhor filme de super-heróis deste ano, como "Deadpool" tratará facilmente de comprovar - e sem sequer precisar de ser grande cinema.

 

 

 

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