Quarteto (ocasionalmente) fantástico
Nos últimos tempos, a Austrália e proximidades têm revelado várias surpresas centradas na pop electrónica - sobretudo dentro da facção dançável e festiva -, devidamente representada por nomes como os Cut Copy, Presets (estes menos festivos, é certo), Ladyhawke, Van She ou Empire of the Sun.
Mas como não há regra sem excepção, nem todas as exportações recomendáveis estão ligadas a esta "família", e o segundo álbum dos Howling Bells aí está para o provar.
"Radio Wars", o novo disco do jovem quarteto australiano, exibe maiores afinidades com outras referências, de resto já presentes no registo de estreia homónimo, editado há três anos.
Em vez da pulsão rítmica as canções do grupo percorrem antes domínios de um rock de linhagem indie, com as guitarras a reclamarem protagonismo, ou de uma dream pop insinuante, o principal ingrediente dos episódios mais atmosféricos.
Não se afastando muito das coordenadas do primeiro álbum, a banda também não se limita a replicar a fórmula e aposta aqui em canções mais directas. Se no antecessor só dois ou três temas (com "Low Happening" à cabeça) demonstravam maior potencial radiofónico, em "Radio Wars" quase todos têm perfil de single.
Mas bons singles, felizmente, mesmo que a sua fácil digestão obrigue a um descréscimo dos ambientes intrigantes e nebulosos que dominavam a estreia.
As influências da folk e do shoegaze, assim como a propagação de uma aura quase gótica, são agora menos evidentes, surgindo de forma pontual num disco de arestas limadas e com um alinhamento mais homogéneo.
A voz, essa, mantém-se intacta, neste caso a de Juanita Stein, séria candidata a musa indie. Sempre doce e sedutora, por vezes inebriante, a vocalista concede personalidade a canções que noutra voz poderiam soar genéricas, oferecendo ainda uma vulnerabilidade que se conjuga bem com a carga intensa das guitarras.
Em "Treasure Hunt", tema de abertura do disco (e um dos melhores), traz à memória uma Shirley Manson dos primeiros tempos dos Garbage, ainda que na maioria dos restantes lembre antes Kristin Hersh (com maiores doses de candura) ou Jennifer Turner, dos Furslide - tudo elogios, sublinhe-se.
As canções, embora recomendáveis, é que nem sempre estão à sua altura, por isso espera-se que um eventual terceiro álbum dos Howling Bells contenha mais momentos próximos do encanto de "Let's Be Kids", da inquietação de "Golden Web" ou da urgência de "Into the Chaos".
Mas independentemente de um possível sucessor, "Radio Wars" destaca-se já como um segundo disco muito pouco desapontante e ocasionalmente viciante.
Howling Bells - "Cities Burning Down"