Sangue fresco
Longe vão os tempos de "Vanessa" ou "Crystal Ball", canções que começaram por ir apresentando GRIMES antes da maior popularidade alcançada ao terceiro álbum, "Visions" (2012). De então para cá, a misteriosa canadiana que assegurava as primeiras partes dos concertos de Lykke Li, por exemplo, não deixou de somar likes no Facebook mas continuou a injectar alguma estranheza na pop, embora essa atitude já pareça confundir-se com uma obrigação em alguns momentos de "Art Angels" (2015).
Mesmo assim, de vez em quando Claire Boucher prova que ainda é capaz do melhor. Como em "KILL V. MAIM", a grande canção do alinhamento do último disco e uma das mais desvairadas do seu catálogo - o que não é dizer pouco, tendo em conta a bizarria ocasional dos dois primeiros registos. É também dos seus desvarios mais acessíveis, por isso não admira que tenha sido promovida a single, depois das apenas curiosas "Flesh Without Blood" e "Scream".
Grimes dispara em várias direcções (baixo pós-punk, electrónica dançável e musculada, refrão pegajoso à cheerleader, vozes de hélio) e da mistura sai um dos exemplares mais conseguidos da sua pop mutante, com acompanhamento visual no videoclip feito a quatro mãos ao lado do irmão, Mac Boucher, em Toronto. A amálgama contamina as imagens, entre a mitologia dos vampiros, cenários cyberpunk e influências manga, com uma viagem da estação de metro à rave num carro cor de rosa choque. Como bónus, ainda há banho de sangue no final. Mais garrido, urbano e hiperactivo era difícil: