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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Sim, podemos (e devemos) falar sobre Bruno

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O objectivo era celebrar o piano, mas os sintetizadores ameaçaram roubar-lhe o protagonismo no início do showcase de BRUNO BAVOTA no Musicbox Lisboa, esta terça-feira. "Apartment Loop #2", uma das canções criadas pelo italiano durante o confinamento, ganhou ao vivo um tom mais musculado, longe da aura contida e sóbria habitualmente associada ao compositor e multi-instrumentista - e com uma carga cinematográfica a lembrar algumas experiências do britânico Jon Hopkins.

Mais para o final da actuação, o músico natural de Nápoles pareceu preparar-se para entrar em órbita num tema ainda mais sintético e cinético, com espectáculo de luzes fluorescentes a acompanhar essa vertigem, continuando a distanciar-se de uma atmosfera intimista.

Quem entrasse na sala do Cais do Sodré durante uma dessas canções, dificilmente diria que ali se celebrava o Piano Day, iniciativa criada em 2015 pelo alemão Nils Frahm e celebrada este ano em Portugal tanto neste concerto em Lisboa como no Salão Brazil, em Coimbra, esta quarta-feira, dia 30 de Março.

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Mas a actuação não deixou de enaltecer o instrumento que a motivou, e que foi durante grande parte do tempo o protagonista, tanto no showcase de BAVOTA como nos de Tiago Sousa e JP Coimbra, que se apresentaram antes dele e também irão actuar no Salão Brazil - o primeiro ainda com um lançamento recente nas mãos, "Organic Music Tapes vol.1", o segundo a explorar o cruzamento de linguagens da sua obra a solo (depois de ter passado pelos Três Tristes Tigres ou Mesa), com uma costela electrónica tão ou mais vincada (e envolvente) do que a do italiano.

BAVOTA até festejou o Piano Day a dobrar, ao também editar "PIANO WORKS VOL.1" na terça-feira. Disco que junta as composições que foi partilhando nos últimos meses, teve em "Ethereal", "Hiraeth" ou "The Dancers" belos argumentos que subiram a palco e contrastaram com o tom mais agitado e disruptivo do início e do fim da actuação.

Entre uma vertente e outra, o músico defendeu que o piano tanto pode brilhar a solo, numa linguagem neoclássica e minimalista, como de se sujeitar à distorção e desconstrução maquinal, em loops que o têm entusiasmado nos últimos tempos.

Essa dualidade também deu o mote a outra compilação recente, "For Apartments: Songs & Loops", que junta EPs nascidos em casa durante a pandemia, motivados por dias de ansiedade, fadiga e descargas de adrenalina. "Apartment Song #4", aí incluído, foi outro dos temas que marcaram a noite e confirmaram que, depois de uma longa temporada domiciliária, BAVOTA e o seu piano estão prontos para voltar aos palcos - com ou sem sintetizadores, até porque esta música sabe justificar atenções nos dois casos.