Sneaker Pimps, 20 anos depois
Casa de "6 Underground" e "Spin Spin Sugar", "BECOMING X", o álbum de estreia dos SNEAKER PIMPS, celebra 20 anos este mês - foi editado a 19 de Agosto de 1996. E não só continua fresco como esconde canções que não merecem continuar ofuscadas por um single e uma remistura.
O facto de a santíssima trindade do trip-hop ser composta pelos Massive Attack, Tricky e Portishead não quer dizer que não haja mais nomes a resgatar de um género que há duas décadas parecia anunciar o futuro e agora é muitas vezes sinónimo de um passado bafiento. Mas até já terá sido mais assim, tendo em conta que novos nomes da pop electrónica exploratória q.b., como FKA Twigs, Banks ou Little Dragon, não existiriam - pelo menos nos moldes conhecidos - sem o contributo de uns quantos artistas e discos desse filho algo renegado da década de 90.
Entre essas figuras que marcaram um tempo estarão os SNEAKER PIMPS, sobretudo pelo primeiro (e talvez melhor) dos três discos que editaram, "BECOMING X", que é também o único álbum dos britânicos a contar com a voz de Kelli Dayton, substituída no registo seguinte por Chris Corner, fundador da banda ao lado de Liam Howe.
Os singles "Tesko Suicide" e "Roll On" abriram caminho, mas coube a "6 Underground" fazer do trio uma das revelações de 1996. Uma voz feminina fresca, guitarra acústica, programações e samples de "Let the Happiness In", de David Sylvian (nos sopros) e "Golden Girl", de John Barry (na harpa), este um instrumental da banda sonora de "007 Contra Goldfinger", originaram uma mistura com tanto de clássico como de revigorante, mais arejada do que o trip-hop nascido em Bristol (o trio formou-se em Hartlepool).
Se esse single resultou num sucesso ubíquo, principalmente com a ajuda do filme "O Santo", thriller de Phillip Noyce de não tão boa memória, nenhum outro tema do álbum conseguiu uma projecção comparável. A relativa excepção foi só mesmo "Spin Spin Sugar", na versão remisturada por Armand Van Helden, que transformou um pedaço de pop insinuante e sombria num colosso house 4/4 requisitado em várias noites dançantes até ao final dos anos 90.
Singles como esses e outros temas do disco, de "Waterbaby" a "Walking Zero", não andam longe dos universos obscuros e dopados de Tricky ou Massive Attack. Mas faixas na linha de "Low Place Like Home" ou "Tesko Suicide" devem mais ao rock electrónico à la Garbage (que se estrearam um ano antes) do que à escola trip-hop. E mesmo nos momentos mais agrestes, a voz de Dayton assegura que os SNEAKER PIMPS são capazes de encontrar o seu próprio recanto na electrónica dedicada ao formato canção, embora com a ajuda de uma equipa de produtores e colaboradores de luxo (Nellee Hooper, Mark "Spike" Stent, Marius De Vries, Flood ou Jim Abbiss estavam entre a nata da época).
Além do alinhamento de "BECOMING X", um lado B como "Clean", com uma sujidade a contradizer o título, mostra que a banda não se esgotava numa fórmula, o que só faz lamentar não haver mais canções dos SNEAKER PIMPS com a vocalista inicial. Por outro lado, Kelli Dayton aproveitou a saída para se dedicar a uma carreira a solo com alguns álbuns aconselháveis pelo caminho - "Psychic Cat" (2004) ou "Band of Angels" (2013), assinados enquanto Kelli Ali, bem merecem ser (re)descobertos. Já Chris Corner, voz e cara da banda em "Splinter" (1999) e "Bloodsport" (2002), tem-se limitado a repetir a receita de synth pop negra no projecto a solo IAMX, depois de uma estreia promissora em 2004.
Entretanto, quando se pensava que a história dos SNEAKER PIMPS já estaria encerrada, Corner e Lowe - que nos últimos anos foi compositor de temas de Lana Del Rey ou Marina and the Diamons - anunciaram um regresso para breve. Para já, os próximos capítulos podem ser seguidos via Twitter, e enquanto não há novas canções vale sempre a pena revisitar as antigas - e os respectivos videoclips, muito anos 90: