Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Quando a reciclagem dá em lixo cósmico

"Prometheus" não deixou muitas saudades, mas "ALIEN: COVENANT" consegue ser ainda mais frustrante e derivativo. E é também, com larga distância, o capítulo mais medíocre da saga espacial de Ridley Scott.

alien_covenant

O verdadeiro vilão de "ALIEN: COVENANT" não é tanto a mítica espécie alienígena devoradora de humanos. Nem andróides de intenções duvidosas, cada vez mais dominantes nesta saga. Nem sequer a inacreditável incompetência da equipa da nave que dá título ao sexto capítulo da longa aventura espacial. A maior ameaça aqui é antes a insistência de Hollywood em capitalizar a nostalgia, sobretudo de meados dos anos 80 (e proximidades), que quase nunca tem corrido bem e escorrega aqui para um nível criativo particularmente baixo.

Se "Prometheus" ainda tentou, há cinco anos, alargar as fronteiras deste mundo, com outros tons e narrativas, mesmo que não tenha ido além de um falhanço ocasionalmente interessante, esta sequela dessa prequela (e há mais duas a caminho) é o primeiro capítulo da saga que se esgota na mera reciclagem.

Quer se goste mais ou menos das propostas de James Cameron, David Fincher ou Jean-Pierre Jeunet, todas contaram com um olhar singular depois de "Alien: O Oitavo Passageiro" (1979). E o próprio criador da saga arriscou qualquer coisa quando regressou ao comando no filme de 2012. Mas "ALIEN: COVENANT" é Ridley Scott mais acomodado do que nunca, com uma revisitação tão preguiçosa que cai na regurgitação.

alien_covenant_2 

Ao longo de duas horas que parecem teimar em não acabar (e demoram a arrancar), o que aqui se encontra é pouco mais do que uma súmula dos códigos que o primeiro filme ajudou a tornar norma, mas servida de forma tão mecânica e inócua como os piores sucedâneos (mesmo que o inevitável orçamento chorudo ajude a tornar o cenário mais vistoso). 

Se as personagens são só carne para canhão, para quê tanto tempo a apresentá-las e a denunciar, logo aos primeiros minutos, uma falta de ritmo que mina o potencial de entretenimento? Não seria muito grave caso o apelo à reflexão compensasse, mas também aí "ALIEN: COVENANT" se limita a sublinhar questões (sobretudo relacionadas com a inteligência artifical) já centrais em "Prometheus". E que até fazem, na verdade, mais sentido em "Blade Runner" (desde a cena inicial, apesar de tudo uma das mais conseguidas), além de terem tido abordagens muito mais frescas e desafiantes noutros universos. Qualquer episódio da série "Humans", por exemplo, é mais intrigante, emotivo e profundo do que a discussão linear e sisuda que Michael Fassbender é obrigado a debitar aqui.

alien_covenant_3

Mas mais triste do que o repisar cansativo de temáticas ou o amadorismo dos diálogos e da construção de personagens (salva-se, com esforço, o andróide apresentado em "Prometheus") é, de longe, o artificialismo CGI dos próprios aliens, vulgaríssimas figuras saltitantes a milhas das criaturas imponentes e palpáveis dos filmes anteriores, com direito a corpo, presença e fluídos.Um monstro destes merecia melhor sorte do que a de muleta de sequências de acção banais, com sustos tão telegrafados como o suposto twist insultuoso lá para o final - que Scott encena com pompa e circunstância mas é só o último prego no caixão.

Para uma reciclagem de "Alien: O Oitavo Passageiro" digna, despachada, divertida e com gente e ameaças a sério lá dentro, mais vale (re)ver "Vida Inteligente", de Daniel Espinosa, também deste ano, que só reforça a embaraçosa condição de nado morto deste "ALIEN: COVENANT".

1/5

Oh não! Outro filme de terror com adolescentes

O fenómeno surpreende, o filme nem por isso. Antes pelo contrário: "NEM RESPIRES" é mesmo das estreias mais frustrantes da temporada.

 

nem_respires

 

Custa a perceber o fenómeno em torno de "NEM RESPIRES", a ponto de fazer da segunda longa-metragem de Fede Alvarez (com Sam Raimi na produção) uma das surpresas das bilheteiras norte-americanas, concedendo-lhe ainda honras de abertura do MOTELX há poucos dias.

 

Até porque o muito apregoado ambiente de terror é algo que pouco se encontra por aqui, uma vez que a tentativa de assalto, por parte de três amigos, à casa de um veterano de guerra cego fica-se mais pelo thriller urbano com óbvia vénia a David Fincher. Mas não só o realizador uruguaino segue sobretudo os moldes de "Sala de Pânico", um Fincher relativamente menor, como fica muito aquém do prodígio técnico desse filme e de momentos de antologia como o genérico inicial - mesmo que o orçamento não seja comparável e que a câmara até se mova por dentro da casa com eficácia, em especial nas cenas da invasão.

 

Se a filmar Alvarez ainda mostra alguma desenvoltura, em tudo o resto "NEM RESPIRES" raramente consegue cumprir os mínimos, com a desvantagem de ir piorando à medida que vai avançando. Os aparentemente escorreitos 88 minutos de duração parecem esticar-se, com alguma margem, quando a acção vai acumulando uma série de situações-limite que quebram qualquer hipótese de suspense palpável, tornadas ainda piores quando o destino do trio de assaltantes é telegrafado logo aos primeiros minutos. E falando neles, fica difícil aderir a um filme com uma construção de personagens tão débil (a destemida, o bad boy, o sonso), estereótipos ao nível do retrato social de Detroit no arranque - a cena com a família da protagonista faz "8 Mile" parecer um prodígio de realismo.

 

nem_respires_2

 

Os actores também não ajudam muito, sobretudo a jovem dupla masculina, e se Stephen Lang até compõe um antagonista credível, o argumento espalha-se decididamente ao comprido na recta final, ao caracterizá-lo de forma a que o espectador torça sem reservas pelos invasores. Só que aí acaba por ser mais tentador torcer pelo final rápido, qualquer que ele seja, de um thriller que vai oscilando entre o redundante (há cenas que parecer tiradas de um livro de estilo de um suposto filme de sustos, pela enésima vez) e o irritante (a banda sonora que raramente dá tréguas quando o silêncio seria a melhor opção, "ressuscitações" insultuosas).

 

Dada a overdose de lugares comuns, poderia pelo menos haver aqui alguma ironia, alguma irrisão, mas nada disso: "NEM RESPIRES" leva-se tremendamente a sério e só dá vontade de regressar a "A VISITA", outro filme recente que fechou velhos e novos numa casa, ao longo de uma noite terrível, e que acerta em tudo o que não resulta aqui. M. Night Shyamalan, volta (mais uma vez) que estás perdoado quando as alternativas do momento são surpresas destas...