A carta de amor à sétima arte de Damien Chazelle (que Hollywood não soube acolher). O regresso ao grande ecrã da saga do Homem-Aranha que interessa. A melancolia de Mario Martone e Mikhaël Hers, a urgência de Kurak Günler e Yvan Attal. Uma temporada promissora para o cinema de animação que se faz por cá. A despedida agridoce de "A Maravilhosa Sra. Maisel", a surpresa de "Fleishman em Apuros" e a confirmação de "Somebody Somewhere" e "Reservation Dogs". A pop electrónica no feminino via Zanias, Chasms, Liela Moss ou Billy Nomates. O regresso dos dEUS, grandes em disco e ao vivo. O passo em frente de Ana Lua Caiano e Cláudia Pascoal, a revelação HADESSA, a persistência de Victor Torpedo e o melhor disco de Stereossauro (ao lado de Ana Magalhães, outra revelação). Emily Haines e Letrux, rainhas do palco.
A sucessão de memórias podia continuar, embora estes já sejam exemplos suficientes do muito e bom que houve a reter do cinema, séries e música do primeiro semestre de 2023 (pré-"Barbenheimer", portanto, mas ainda assim com Margot Robbie entre os destaques). A lista abaixo deixa mais umas dezenas a (re)descobrir, tanto de dentro como de fora de portas, enquanto a rentrée não traz mais novidades de peso. De qualquer forma, pelo menos em relação aos filmes, o ano já parece estar ganho, com várias estreias que não destoariam num top 10 de Dezembro (e que provavelmente vão lá estar):
10 FILMES
"A Acusação", Yvan Attal "A Água", Elena López Riera "As Oito Montanhas", Felix Van Groeningen e Charlotte Vandermeersch "Babylon", Damien Chazelle "Dias em Chamas", Kurak Günler "Holy Spider", Ali Abbasi "Homem-Aranha: Através do Aranhaverso", Joaquim dos Santos, Kemp Powers e Justin K. Thompson "Nostalgia", Mario Martone "O Azul do Cafetã", Maryam Touzani "Os Passageiros da Noite", Mikhaël Hers
"Fauda" (T4), Netflix "Fleishman em Apuros" (T1), Disney+ "Reservation Dogs" (T2), Disney+ "Somebody Somewhere" (T2), HBO Max "A Maravilhosa Sra. Maisel" (T5), Prime Video
"!!", Cláudia Pascoal "FORTUNA", HADESSA "Se Dançar É Só Depois", Ana Lua Caiano "Tracy Vandal Plays Victor Torpedo", Victor Torpedo & Tracy Vandal "Tristana", Stereossauro
10 CANÇÕES
"As feras, essas queridas", Letrux "Closing", Zanias "Come and Find Me", Liela Moss "Glimpse Of Heaven", Chasms "Heat", Nuovo Testamento "How to Replace It", dEUS "Live Again", The Chemical Brothers feat. Halo Maud "My Darling True", Nicole Dollanganger "Retributions Of An Awful Life", Heartworms "Times Square", Jam City feat. Aidan
Vão mais 10? É seguir por aqui:
10 CANÇÕES NACIONAIS
"Artificial", Filipe Keil "Bandeiras", Bandua "Dedos da Mão", HADESSA "Library Loudness", Strond "Lugar II", Cláudia Pascoal "Nome de Mulher", Stereossauro feat. Ana Magalhães "Se Dançar É Só Depois", Ana Lua Caiano "The rabbit hole", Birds Are Indie "Tour de Force", Moullinex "Viver", SAL
As salas de cinema podem já ter tido dias melhores (ainda assim, há sinais encorajadores de retoma), mas 2022 não deixou de ser um ano com uma quantidade apreciável de óptimos filmes nas salas portuguesas. Alguns chegaram com atraso (como "A Lei de Teerão", um dos mais memoráveis), outros ficaram em cartaz muito menos tempo do que mereciam, e boa parte só teve direito a estreia em Lisboa. Nada de novo aí, embora o circuito de festivais tenha ajudado, na dimensão possível, a contornar lacunas (e continuou a trazer grandes surpresas).
Nas séries também não faltaram novidades, mas é pena que a vida de muitas comece a ser colocada em causa. "1899" (Netflix) e "Raised by Wolves" (HBO Max) são dois dos cancelamentos abruptos que vieram contrariar a ideia de prosperidade da era do streaming, que parecia indiscutível até há bem pouco tempo. Ambas as sagas mereciam lugar na lista abaixo, caso tivessem tido carta branca para avançar. Assim, deixam o sabor amargo de histórias entusiasmantes que ficaram a meio...
Nos discos, o streaming também foi um aliado da descoberta e da diversidade, apesar do fosso crescente entre muitos artistas e o Spotify. Mesmo assim, este não parece ter sido um ano superlativo para o formato álbum, embora não tenham faltado grandes canções nem mais títulos a (re)descobrir além dos dez listados abaixo (como os mais recentes das Automatic, Charlotte Adigéri + Bolis Pupul, Sinead O'Brien, Mall Grab ou Hercules & Love Affair, entre outros). Na selecção nacional, foi bem mais fácil eleger o álbum do ano: "2 de Abril", d'A garota não, crónicas palpáveis de um bairro setubalense que merecem chegar a todo o país.
Já sem limitações pandémicas, a música voltou de vez aos palcos e reforçou o cenário pré-COVID-19: a oferta generosa de festivais parece emagrecer a agenda de concertos de sala. Não que os Duran Duran, Letrux, Peaches ou KUTU se tenham dado mal nesse contexto...
Melhor filme português: "Lobo e Cão", Cláudia Varejão
10 SÉRIES
"Bárbaros" (T2), Netflix "Borgen: o Reino, o Poder e a Glória" (T1), Netflix "Industry" (T2), HBO Max "Manhãs de Setembro" (T2), Prime Video "Ozark" (T4), Netflix "Pico da Neblina" (T2), HBO Max (série mais subestimada do ano, outra vez?) "Severance" (T1), Apple TV+ "The Boys" (T3), Prime Video "The White Lotus" (T2), HBO Max "Top Boy" (T2), Netflix