Até 8 de Novembro, a 11.ª edição do QUEER PORTO - Festival Internacional de Cinema Queer propõe 40 filmes a descobrir no Batalha Centro de Cinema, na Casa Comum da Reitoria da Universidade do Porto e no Passos Manuel. Como sempre, a programação é quase inteiramente distinta da que passou pelo Queer Lisboa, decorrido no final de Setembro.
Arrancando e despedindo-se com dois filmes em destaque no Festival de Berlim - "Duas Vezes João Liberada", de Paula Tomás Marques; e "Hot Milk" (na imagem acima), estreia na realização da argumentista britânica Rebecca Lenkiewicz, respectivamente -, o evento que regressa esta semana à Invicta homenageia o programador Daniel Pinheiro, falecido em Janeiro, a quem é dedicada a secção Carte Blanche, composta por quatro obras marcantes na sua história com o QUEER PORTO.
Agora com presença fixa no festival, a Resistência Queer, centrada no cinema de resistência em territórios política e socialmente conturbados, dedica olhares à Palestina e ao Irão (que já tinham sido apostas do Queer Lisboa deste ano), assim como ao Leste Europeu.
Também já visto na capital, o muito falado "Pillion" (na imagem acima), do britânico Harry Lighton, sobressai pela presença de Alexander Skarsgård (coprotagonista, ao lado de Harry Melling) e pelo foco em práticas BDSM... mas acabou por ser dos títulos mais frustrantes e acomodados da programação lisboeta (fica o aviso).
De volta estão as habituais secções competitivas (da Competição Oficial, em torno de ficções e documentários, ao Prémio Casa Comum, que distingue curtas portuguesas), Panorama (com filmes do circuito internacional de festivais) e Queer Focus (dedicado a questões ecológicas). Há ainda uma Sessão Especial com "Outlasting – Living Archives of Older Queers", de Ana Cristina Santos e Nuno Barbosa, além de conversas e festas.
Por onde começar e avançar? Talvez por algumas destas sugestões:
"MOLT LLUNY", de Gerard Oms: A primeira longa-metragem do realizador espanhol que começou a carrreira a trabalhar com a conterrânea Isabel Coixet foi muito celebrada (e premiada) em festivais como os de Guadalajara, Málaga ou San Sebastián. Boa parte dos elogios distinguem a interpretação de Mario Casas (no papel protagonista) e a forma intrigante e sensível com que Oms retrata a jornada de um homem em crise, a viajar de Barcelona para ver um jogo de futebol em Utrecht mas acabando por não voltar a Espanha. À partida, perfila-se como um dos candidatos mais fortes da Competição Oficial deste ano...
Quarta, 5 de Novembro, às 21h30, no Cinema Batalha - Sala 1. A sessão contará com a presença do realizador.
"A NATUREZA DAS COISAS INVISÍVEIS", de Rafaela Camelo: Nomeado para o Teddy Award na mais recente edição do Festival de Berlim, este drama sobre cumplicidades femininas e a entrada na adolescência é, para muitos, uma das revelações do cinema brasileiro dos últimos tempos. Ou até uma confirmação, para quem já tinha visto as três curtas da realizadora. Debruçando-se sobre a amizade de duas meninas durante umas férias de Verão num ambiente rural, tem sido aplaudido graças ao elenco que cruza várias gerações e a uma visão refrescante do mundo. O crítico brasileiro Pablo Villaça chega a insistir (três vezes) que é um filme encantador como poucos.
Sexta, 7 de Novembro, às 19h15, no Cinema Batalha - Sala 1
"CABO NEGRO", de Abdellah Taïa: Onze anos depois do seu primeiro filme, o curioso "L’Armée du Salut" (que passou pelo Queer Lisboa em 2014), o escritor marroquino conhecido por romances como "Aquele que é Digno de ser Amado" deu mais um passo na carreira de realizador. Radicado em Paris, Taïa ainda é dos poucos artistas árabes abertamente gay e, talvez por isso, a sua obra literária e cinematográfica não tem deixado de abordar a homossexualidade, sobretudo num contexto de opressão. É o que acontece neste regresso à sua terra natal, um drama intimista em torno das férias de dois jovens amigos queer em Cabo Negro, no norte de Marrocos, que se instalam na casa do amante americano de um deles.
Sábado, 8 de Novembro, às 19h15, no Cinema Batalha - Sala 1
O festival de cinema mais antigo da capital está de regresso, e quase a fazer 30 anos. Até dia 27, há mais de 100 filmes a descobrir na 29.ª edição do QUEER LISBOA.
A decorrer no Cinema São Jorge e na Cinemateca Portuguesa (e com algumas festas temáticas no Purex), o evento dedicado a filmes LGBTQIAP+ volta a propor curtas, longas e documentários, em competição ou não, ao longo de mais de uma semana a partir desta sexta-feira, 19 de Setembro.
Arrancando com o thriller "Plainclothes", do norte-americano Carmen Emmi (protagonizado por Tom Blyth e Russell Tovey, na foto acima) e despedindo-se com o documentário "Between Goodbies", da sul-coreana Jota Mun, o QUEER LISBOA tem entre os destaques uma mostra de seis curtas de entrada livre da nova secção Resistência Queer, integrada no programa No Pride in Genocide (Queer Cinema for Palestine). Está agendada para o próximo domingo, dia 21, às 18h00, na Sala 2 do São Jorge, e serão aceites donativos para a associação de ajuda humanitária Seeds of Hope.
Além do genocídio de Israel sobre a Palestina, a programação descrita como "um espelho do conturbado mundo de hoje" percorre parte da longa e singular obra do cineasta francês Lionel Soukaz, que morreu este ano, entre outros olhares por géneros, épocas e geografias, tanto em centenas de filmes como em várias conversas.
Para ajudar a começar a escolher, ficam cinco portas de entrada possíveis:
"ATO NOTURNO", de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon: A dupla que criou "Beira-Mar" (2015) e "Tinta Bruta" (2018) já se tornou habitual no Queer Lisboa. A terceira longa-metragem dos brasileiros propõe um mergulho nas leis do desejo e da transgressão através do relacionamento secreto entre um actor e um político com gosto pelo risco e por sexo em público. Nomeado para o Teddy Award no Festival de Berlim deste ano, este flirt entre drama, thriller e comédia negra tem sido destacado por reforçar a vertente voyeurista e camp face à obra antecessora do duo. O trailer também sugere um foco noctívago (tal como o título, aliás) e esteticamente mais elaborado.
Domingo, 21 de Setembro, às 22h00, no Cinema São Jorge - Sala Manoel de Oliveira
"TRIPOLI - A TALE OF THREE CITIES", de Raed Rafei: Um dos documentários em competição este ano parte do regresso agridoce de um realizador à sua cidade natal. O libanês Raed Rafei, que além de cineasta é professor e trabalhou como jornalista, voltou a Tripoli, de onde foi obrigado a sair anos antes, para medir o pulso social e cultural de um território abalado por flagelos económicos e bélicos. Através de conversas com habitantes locais, revisita memórias e ausculta percepções, crenças e receios. Quem gostar de filmes com cidades como protagonistas, terá aqui das sugestões mais promissoras.
Terça, 23 de Setembro, às 16h15, no Cinema São Jorge - Sala 3
"JONE, A VECES", de Sara Fantova: Primeira longa-metragem de uma realizadora que já tinha assinado uma curta, "Don't Wake Me Up" (2018), participado no filme colectivo "La filla d'algú" (2019) e dirigido episódios da série "Això no és Suècia" (2023), este drama realista acompanha uma jovem de Bilbau que vive a sua primeira experiência amorosa numa altura em que lida com a perda do pai, doente de Parkinson. Entre inícios e despedidas, esta aposta espanhola premiada em festivais como o de Málaga ou D'A Film Barcelona pode ser uma boa surpresa nas histórias de entrada na idade adulta, temática sempre fértil que costuma inspirar alguns dos melhores títulos do Queer Lisboa.
Quinta, 25 de Setembro, às 22h00, no Cinema São Jorge - Sala Manoel de Oliveira
"PILLION", de Harry Lighton: Um dos filmes-sensação deste ano promete um dos papéis mais arrojados de Alexander Skarsgård, na pele de um líder motard fetichista. Olhar sobre uma relação conduzida por práticas BDSM, esta primeira longa de um realizador com um percurso feito de curtas tornou-se dos títulos mais aplaudidos em Cannes este ano - onde ganhou o prémio de Melhor Argumento na secção Un Certain Regard e foi nomeado para a Queer Palm, entre outros louvores. Não falta quem garanta estar aqui uma revelação britânica vibrante como poucas, e com algumas particularidades no elenco: Harry Melling, que começou por se fazer notar como Dudley Dursley na saga cinematográfica de Harry Potter, é o co-protagonista, enquanto que Jake Shears, vocalista dos Scissor Sisters, tem aqui a sua estreia como actor no grande ecrã.
Sexta, 26 de Setembro, às 22h00, no Cinema São Jorge - Sala Manoel de Oliveira
"MY BOYFRIEND EL FASCISTA", de Matthias Lintner: É possível amar alguém que vota noutro partido? Este documentário só pretende avançar respostas de um caso específico, o do próprio realizador e do seu companheiro, que começam a desviar-se para campos ideológicos opostos. Na sua segunda longa-metragem, sucessora da bem recebida "Property" (2019), centrada numa comuniade urbana e artística de Berlim, o cineasta italiano concentra-se na sua esfera pessoal através do quotiano tenso partilhado com um activista cubano desiludido com o comunismo. É um dos filmes mais declaradamente políticos desta edição do Queer Lisboa, portanto.
Sábado, 27 de Setembro, às 19h00, no Cinema São Jorge - Sala 3