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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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Amnistia sonora

Nem um avanço nem um passo atrás. "AMNESTY (I)", o quarto álbum dos CRYSTAL CASTLES, é antes um passo ao lado na carreira da dupla ao optar pela continuidade em vez da ruptura sonora, apesar da saída de Alice Glass.

 

crystal_castles_2016

 

Ao contrário do que se poderia pensar - e que muitos ainda chegaram a temer -, os CRYSTAL CASTLES estão longe de descaracterizados no primeiro álbum sem a vocalista original, Alice Glass, que ajudou a consolidar grande parte do culto em torno do duo canadiano. Tanto que o maior problema de "AMNESTY (I)" talvez seja o de mostrar uma banda demasiado igual a si própria, já que até a nova voz, a de Edith Frances, segue sempre os moldes da anterior (seja no modo calmo ou caótico) em vez de procurar um espaço mais demarcado.

 

Por outro lado, e para quem ainda tivesse dúvidas, o disco deixa claro que o grande responsável pela identidade sonora dos CRYSTAL CASTLES é mesmo o produtor e compositor Ethan Kath, por muito que a antiga colega se chegasse à frente (literalmente) nos concertos, alavancas fulcrais para o fenómeno, e fosse a face mais visível e carismática do projecto.

 

A produção de Kath continua a gerar canções com uma identidade reconhecível e até inimitável, entre estilhaços de electrónica explosiva de alma gótica e industrial, intensa e dançável, e acessos de tranquilidade nos seus antípodas, com ecos dream pop. Mas desta vez, além de facilmente identificável, o cenário também chega a ser redundante, sobretudo em momentos como "Sadist" ou "Chloroform", demasiado próximos do que já se tinha ouvido no disco anterior e talvez mais apropriados para lados B.

 

Crystal_Castles_-Amnesty

 

Tendo em conta que chega de uma banda até aqui decidida a não se repetir de disco para disco - os óptimos "Crystal Castles" (2008), "Crystal Castles (II)" (2010) e "(III)" (2012) -, "AMNESTY (I)" pode ser desapontante ao primeiro impacto, contentando-se por vezes em oferecer derivações de "Celestica" ou "Baptism" quando deveria atirar-se a outros desafios.

 

Não é que não haja surpresas:a frenética "Kept" afasta-se do negrume que tem sido marca registada da banda depois do álbum de estreia e ensaia um flirt com o french touch, "Ornament" serve um oásis apetecível e quase instrumental depois de um alinhamento carregado de tensão, "Femen" é uma introdução envolvente a condensar a atmosfera entre o celestial e o fantasmagórico do disco.

 

Já "Teach Her How to Hunt", interlúdio com sugestões drone e noise, parece uma sequela de "I Am Made of Chalk", que fechava o segundo álbum, cabendo à serena "Their Kindness Is Charade" fazer a ligação com os finais dos outros, ficando ainda entre os temas mais bonitos da fase recente do grupo. Igualmente difícil de negar é a força de "Concrete" ou "Frail", a primeira com perfil de hino e assente numa EBM demolidora, a segunda a piscar o olho ao trance noutro caso que ameça tornar-se muito sério ao vivo.

 

Contas feitas, e quando este savoir faire nunca chega a ser realmente beliscado, "AMNESTY (I)" fica muito longe de um mau disco ou sequer de um episódio a lamentar... só peca mesmo por ser o menos urgente de uma discografia que estava, até aqui, entre as essenciais deste milénio.