Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Quando a folk de câmara encontra a justiça social

Emily Jane White.jpg

"No blind divinity/ Justifies this to me", lamenta EMILY JANE WHITE em "SHOW ME THE WAR", o seu novo single. Tema de apresentação do seu sétimo álbum, "Alluvion", a editar a 25 de Março, nasceu durante o período de confinamento, em 2020, e partiu do que a norte-americana considera uma epidemia mundial de violência racial e misoginia paralela à da COVID-19.

Depois de "Immanent Fire" (2019), disco dominado por preocupações ecológicas, a voz revelada no já distante "Dark Undercoat" (2007) parece continuar a desviar-se de uma escrita confessional para se debruçar sobre questões marcadas por estímulos exteriores e mais amplos. As manifestações que reagiram ao homicídio de George Floyd têm eco directo tanto no relato como no videoclip do primeiro avanço da nova fase, que também alude aos casos de feminicídio em Juarez, no México, ao longo de décadas ou à recente criminalização do aborto na Polónia.

Alluvion.jpg

Musicalmente, no entanto, este universo continua a focar-se numa folk etérea e assombrada, mas não derrotista, com produção e arranjos de Anton Patzner (Bright Eyes, Pinback) e mistura de Alex DeGroot (Zola Jesus).

O álbum tem a particularidade de contar com um artista convidado num tema, o britânico Darkher (algo invulgar ou até mesmo inédito nesta discografia), e já há datas de apresentação ao vivo confirmadas nos EUA este ano, no Verão. Espera-se que Portugal seja contemplado numa provável digressão europeia, como aconteceu (e muito bem) com o disco anterior.

Há fogo neste mar

Emily Jane White.jpg

Embora conte com uma praia entre os cenários, o videoclip do novo single de EMILY JANE WHITE não tem nada de lúdico ou veraneante. As imagens que acompanham "METAMORPHOSIS" seguem antes a linha melancólica, introspectiva e outonal da folk que a norte-americana cria desde o memorável "Dark Undercoat" (2007), já lá vão seis álbuns.

O mais recente, "Immanent Fire" (2020), chegou a subir a palcos portugueses (em Coimbra e Ponte de Lima) e teve entre os pontos de partida as consequências das alterações climáticas, em especial a vaga de incêndios nos EUA nos últimos anos - e sobretudo na Califórnia, onde a cantautora reside. Não admira, por isso, que experiências de transformação e renovação guiem muitas das canções do disco, com o mundo pessoal em foco nas letras a expandir-se para um âmbito mais universal nos videoclips desta fase - como os de "Washed Away" ou "Surrender", dominados por paisagens naturais.

"METAMORPHOSIS" deixa mais um belo convite para (re)descobrir o álbum, ao juntar a voz  da californiana a uma marcha percussiva e imponente, interrompida a certa altura por coros com tanto de angelical como de assombrado. Vale bem o mergulho, mas com cuidado porque pode queimar: