Se no disco anterior propunha a mudança, no próximo ANIKA defende-a com uma urgência inédita até aqui. Sucessor de "Change" (2021), "ABYSS", agendado para 4 de Abril, é descrito pela britânica radicada na Alemanha como reacção a um mundo cujo estado se encontra à beira do abismo.
Concentrado de frustração, raiva e confusão, o terceiro álbum da cantautora, poetisa e DJ dá a resposta possível ao caos contemporâneo com inspirações que recuam algumas décadas: o alinhamento é uma viragem declarada para o rock (depois da electrónica e do pós-punk explorados nos primeiros discos), com ecos do grunge e de figuras como Patti Smith, PJ Harvey ou Courtney Love, avançou a artista nas suas plataformas online.
Gravado ao vivo e em poucos dias em Berlim, "ABYSS" mostra ao quem vem no estrondoso primeiro single, "HEARSAY". Embora ANIKA não abandone o registo algo lacónico pelo qual se distinguiu, o acompanhamento instrumental é dos mais viscerais que já apresentou, na melhor tradição de guitarras alternativas à anos 90. "And you’re making up stories to push your narrative/ And you’re making up tales to be provocative", entoa num tema crítico dos meios de comunicação social e da partilha de notícias falsas. O videoclip sugere que também valerá muito a pena acompanhar esta nova faceta em palco:
Dezembro costuma ser mais um mês de balanços anuais do que de novidades imperdíveis, mas em 2024 os KASSIE KRUT sobressaem enquanto excepções que confirmam a regra. O trio nova-iorquino edita o EP de estreia homónimo na próxima sexta-feira, dia 6, e é legítimo esperar o melhor: afinal, os dois singles já revelados, "RECKLESS" e "RACING MAN", não são menos do que brilhantes ao proporem uma combinação frenética de ecos industriais e apelo pop (electrónico), com tanto de tenso e urgente como de belo e hipnótico.
A alquimia sonora surpreende e entusiasma, embora não seja resultado de músicos estreantes, o que ajudará a explicar esta desenvoltura na exploração de ritmos insistentemente percussivos e atmosferas sedutoras. O casal Kasra Kurt e Eve Alpert fez parte dos Palm (banda de Filadélfia que se separou no ano passado ao fim de três álbuns) e por isso traz na bagagem uma experiência considerável entre o math-rock e o pós-punk. Matt Anderegg, o terceiro elemento, colaborou com os Body Heat ou Mothers como baterista e o seu percurso já se tinha cruzado com os Palm ao produzir o seu último disco, "Nicks and Grazes" (2022).
Inicialmente um projecto paralelo a solo de Kurt, nascido em 2019 e motivado por uma paixão pela música de dança mais desafiante, os KASSIE KRUT no seu formato actual juntam à lista de interesses o noise ou a hyper-pop, encontrando referências em nomes como SOPHIE, Kero Kero Bonito, Kim Gordon ou Dean Blunt. O gosto por texturas contrastantes abriu caminho para um EP que promete juntar o eléctrico ao acústico, o sintético ao orgânico, a suavidade à fricção, trazendo melodias baseadas em sons do quotidiano urbano, de alarmes de carros a toques de telemóvel. Quem pediu uma boa revelação para este Natal talvez não precise de ir mais longe...