VICTOR TORPEDO é um sério candidato a artista nacional mais prolífico de 2023. O antigo guitarrista dos Tédio Boys e dos The Parkinsons comprometeu-se a editar um álbum por mês ao longo do ano (!), através da Lux Records, assumindo também as capas, a gravação ou os videoclips, e tem-se mostrado à altura dessa ambição.
A aventura do veterano do rock (e não só) conimbricense começou com "Junk DNA + Strip Jazz Greats", em Janeiro, disco sucessor do recomendável "Punk/Pop and Soft Rage" (2021), e continuou com "Cut Ups", em Fevereiro, "Sketchs 1 + Straight to Tape (Demos for Nothing)", em Março, e "Wild Life", em Abril.
O registo mais recente, "TRACY VANDAL PLAYS VICTOR TORPEDO", editado em Maio, propõe uma viragem assinalável. Como o título indica, a interpretação foi entregue à vocalista dos saudosos Tiguana Bibles, outra banda da qual o guitarrista fez parte.
Feitas a pensar numa das vozes mais sedutoras de Coimbra e arredores, as canções retomam territórios pós-punk em tom melancólico, misterioso e aveludado, com os quais a artista escocesa que também já partilhou discos e palcos com a Jigsaw ou John Mercy se dá especialmente bem.
"MADE TO MEASURE", o primeiro single, não engana e vem juntar-se aos mais estimáveis nascidos por cá ultimamente. E às primeiras audições, os outros temas do álbum fazem-lhe justiça, numa colaboração que chegou sem aviso prévio mas em boa hora.
Da Beira Baixa para o mundo, ou pelo menos para o palco do Lux. Na passada quinta-feira, 20 de Abril, os BANDUA revisitaram o álbum de estreia na discoteca lisboeta e apresentaram novidades num concerto que também não dispensou "Bandeiras", tema que parece marcar um virar de página nesta história entre a tradição e a modernidade.
Ana Viotti
"Quem canta, seus males espanta", entoou Edgar Valente perto do final da (muito concorrida) actuação dos BANDUA numa sala onde o vocalista confessou já ter sido muito feliz com a música de terceiros.
Mas desta vez, foi o seu projecto com Bernardo D’Addario (programações, adufe, baixo) o responsável por uma catarse musical que arrancou em modo hipnótico e contemplativo, à medida dos temas do disco homónimo (uma das boas surpresas nacionais do ano passado), e que terminou já perto da euforia raver, cortesia das novas canções guardadas para os últimos minutos desta cerca de hora e meia.
Com um ritmo bem desenhado, foi um concerto quase sempre em crescendo, partindo das sugestões downtempo de "Cinco Sentidos", um dos cartões de visita da dupla, envolvendo desde aí um público atento num transe que deu lugar a um ambiente mais efusivo com "Bandeiras", o tema que os BANDUA apresentaram na mais recente edição do Festival da Canção. Apesar de ter sido mas propostas mais fortes (para não dizer mesmo a melhor deste ano), não chegou a passar à final, mas nem por isso deixou de marcar o percurso da banda como nenhuma outra.
Ana Viotti
No Lux, o duo sublinhou a abertura de portas desse episódio - com a maior visibilidade garantida pela sua primeira actuação televisiva -, assinalando que também levou ao reforço do seu ímpeto de continuar a fazer música. Boas notícias para quem reconhece aqui um dos nomes a seguir da música que se faz por cá, em especial daquela que une a tradição e a modernidade, juntando folclore e electrónica - como o fez em tempos João Aguardela na experiência Megafone (algo esquecida, mas uma influência assumida), Vasco Ribeiro Casais no projecto Omiri ou Pedro Lucas com O Experimentar Na M'Incomoda.
No caso dos BANDUA, a matéria-prima tem tido raízes na Beira Baixa, mas um eventual segundo álbum será seguramente diferente da estreia. Foi essa a impressão deixada pelas canções inéditas num concerto que abraçou outros recantos da música de dança, com destaque para a escola mais agitada dos anos 90 - do techno à house, do breakbeat ao drum n' bass ou a acessos pontuais mais recentes, via dubstep, numa fusão que a dupla descreve como tugastep.
Na primeira canção estreada, Edgar Valente cantou sobre barquinhos e passarinhos mas a arquitectura rítmica desse e de outros momentos, apesar da contribuição do adufe, foi abandonando o imaginário rural para se aproximar da faceta mais psicadélica de uns Orbital e Chemical Brothers ou da vertente mais sintetizada de uns Depeche Mode. Curiosamente, os novos temas até foram acolhidos de forma mais entusiasta do que muitos dos já conhecidos, sugerindo que "Bandeiras" pode ser apenas o pico do início desta viagem - e que o melhor dos BANDUA, afinal, talvez ainda esteja para vir...