O difícil (e tão, mas tão demorado) segundo álbum
Se não foi dos partos mais difíceis da década até agora, não falha por muito. "DESTROYER", o segundo álbum das TELEPATHE, demorou seis anos a chegar depois de ter sido várias vezes adiado. E agora que chega, é só uma novidade parcial: os fãs mais atentos já teriam ouvido pelo menos cinco destas dez canções, que foram sendo reveladas no formato gravado ou ao vivo. Mas com canções destas, é fácil desculpar a dupla nova-iorquina...
A estreia, "Dance Mother" (2009), tinha deixado a bitola elevada, com uma colecção de synth pop cruzada por hip-hop ou experimentalismo capaz de convencer gente como Trent Reznor (que viria a assinar uma remistura) ou James Murphy (LCD Soundsystem). Dave Sitek (dos TV on the Radio) antecipou-se e apadrinhou a banda de Busy Gangnes e Melissa Livaudais logo ao início, encarregando-se da produção do álbum. Mas tantos anos depois, as novas sensações hipster já não passam por aqui e "DESTROYER" não tem tido tanto eco, mesmo junto de alguns meios e publicações que abençoaram o antecessor. O que é pena, porque se este disco não repete o factor surpresa nem conta com um alinhamento tão forte, ainda serve alguma da melhor pop electrónica recente.
Com menos contrastes do que o primeiro álbum, o alinhamento aposta quase sempre em canções directas, sem os desvios ao formato clássico presentes nos EPs e ainda a deixar rasto na estreia num longa-duração. Aqui as TELEPATHE estão mais acessíveis do que nunca, mesmo que recusem as tendências da pop actual - da mais mediática à indietronica de vozes femininas, às vezes quase tão formatada.
Ao contrário do antecessor, o disco foi gravado em Los Angeles e não em Brooklyn, o que talvez possa ajudar a explicar a sonoridade menos densa, às vezes até surpreendentemente luminosa (ouça-se "Drown Around Me", o tema mais uplifting do duo), e a maior atenção a refrãos que ficam no ouvido (com destaque para os da faixa-título e "Slow Learner", pegajosos como poucos).
Apesar de ter imposto uma longa espera, "DESTROYER" não soa à manta de retalhos de muitos discos de parto demorado. O alinhamento é fluído e nunca se desvia muito de uma recuperação actualizada de alguns modelos dos anos 80, com ligação directa aos ensinamentos de uns Depeche Mode da fase inicial, Gary Numan, New Order ou Pet Shop Boys, referências inspiradoras de muitos copistas mas aqui a alimentar uma dupla que reforça a personalidade e a sensibilidade pop.
Às vezes, nomes mais recentes, como os brasileiros Cansei de Ser Sexy (sobretudo da fase "Planta") e Tetine também não andam longe (até porque também partem dos mesmos modelos de há três décadas), ou até os Ladytron (outros que já começam a deixar saudades), apesar de serem mais versáteis. À falta deles, a synth pop fica muito bem tratada nas canções das TELEPATHE, e este difícil segundo álbum só peca mesmo por não manter a excelência do arranque numa segunda metade ainda suculenta, mas não tão memorável. Nada que impeça "DESTROYER" de se juntar à lista (cada vez mais rara?) de álbuns a ouvir do princípio ao fim, sem precisar de saltar faixas - e já agora, em loop, para matar as saudades...