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Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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Kate Winslet trocou de turno com Mark Ruffalo

Quatro anos depois de "Mare of Easttown", chegou uma nova minissérie criada por Brad Ingelsby. "TASK", aposta forte da HBO Max, mantém-se no território do drama policial e, em vez de Kate Winslet, tem agora Mark Ruffalo a conduzir uma investigação. Os primeiros episódios são dos melhores a espreitar nesta rentrée televisiva.

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Outra vez a Pensilvânia, outra vez um crime a dar o mote, outra vez um realismo suburbano pintado de tons sépia num convite à melancolia (para não dizer à depressão). Ao primeiro embate, "TASK", thriller dramático sucessor da elogiada "Mare of Easttown" (2021), não parece querer desviar-se muito do registo com o qual o argumentista e produtor Brad Ingelsby se estreou nas séries depois de um percurso no cinema.

Mas os dois episódios iniciais da nova coqueluche da HBO Max também não demoram a insinuar que as diferenças podem ser maiores do que as semelhanças. Se Mark Ruffalo funcionará como chamariz para muitos espectadores (tal como Kate Winslet há quatro anos), o protagonismo é dividido com Tom Pelphrey, nome menos sonante mas que já tinha deixado boas memórias, por exemplo, na terceira temporada de "Ozark" (série da Netflix na qual encarnou o irmão da personagem de Laura Linney).

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Entre as histórias profissionais e familiares de um de outro, respectivamente polícia e ladrão, "TASK" começa por moldar uma simetria narrativa na qual vai sendo difícil separar bons, maus e vilões. Essa ambiguidade moral já é palpável no primeiro capítulo e adensa-se no segundo, quando entram em cena mais figuras de um bairro de Filadélfia marcado por assaltos a casas de traficantes de droga por parte de homens mascarados.

Com uma moldura dramática ambiciosa, a saga de sete episódios contrasta integridade e vingança ou culpa e redenção em histórias de pais e filhos nas quais o trauma e a violência são denominador comum. E tanto o argumento como a direcção de actores jogam a favor de personagens que desafiam estereótipos, mesmo que Ingelsby não pareça querer reinventar a linguagem do procedural. Também nem precisa: da realização astuta de Jeremiah Zagar ("We Are the Animals") à banda sonora densa e exploratória q.b. de Dan Deacon, "TASK" afirma-se como um retrato adulto e exigente, capaz de gerar tensão tanto através de uma conversa num jantar de família como em sequências de suspense a altas horas.

Felizmente, este arranque também é temperado por algum humor, sobretudo nas cenas com a jovem equipa que ajuda o agente do FBI encarnado por Ruffalo. Entre os novos investigadores está Fabien Frankel, bastante mais à vontade aqui do que como Criston Cole em "House of the Dragon" (também da HBO Max). Outro nome a destacar, Emilia Jones é tão brilhante como comovente na pele de uma mulher obrigada a crescer demasiado rápido. Ruffalo está muito bem acompanhado, portanto.

"TASK" estreou-se na HBO Max a 8 de Setembro. A plataforma de streaming estreia novos episódios todas as segundas-feiras.

Amigos, amigos... demónios à parte (?)

Entre o drama adolescente e o terror sobrenatural, "O VERÃO EM QUE HIKARU MORREU" não será das novidades mais descontraídas ou confortáveis na altura de ir a banhos, mas parece ter argumentos para conquistar adeptos de anime (e não só). É uma das estreias do mês da Netflix.

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Adaptação da manga homónima de Mokumokuren, publicada desde 2021 e um sucesso de crítica e de vendas no Japão, a mais recente aposta anime da Netflix traz novos motivos para continuar a seguir um género de animação que tem tido casa regular na gigante do streaming (e impôs-se, aliás, como um dos pilares mais consistentes do seu catálogo).

"O VERÃO EM QUE HIKARU MORREU" diz logo ao que vem no título, a denunciar o mote trágico de uma história na qual o protagonista se debate com uma experiência do luto de traços invulgares. E a série criada por Ryōhei Takeshita também não perde tempo a atirar o espectador para o centro do drama, ao abordar directamente a morte de Hikaru Indo, um adolescente de uma pequena aldeia do interior japonês, assim como o seu "regresso" à vida.

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O que teve contornos de um acidente com final feliz esconde, afinal, uma verdade chocante: o corpo de Hikaru está agora possuído por um ser sobrenatural, capaz de replicar a sua personalidade e postura quase sem falhas, mas apenas o seu melhor amigo, Yoshiki Tsujinaka, suspeita da mudança.

Se noutras séries este cenário de dúvida alimentaria alguns capítulos, em "O VERÃO EM QUE HIKARU MORREU" a possessão é revelada a Yoshiki (e ao espectador) logo aos primeiros minutos, uma vez que o argumento está mais interessado em confrontar um jovem com a perda abrupta do seu cúmplice diário (e interesse amoroso?) enquanto aceita, apesar das reservas, conviver com o seu substituto aparentemente perfeito. 

O primeiro episódio, "Daitaihin", consegue dizer muito em pouquíssimo tempo (a duração não chega aos 25 minutos), um bálsamo quando tanta concorrência insufla capítulos sem grande critério narrativo. Nesse aspecto, este anime promete ser tão sucinto e certeiro como a também recente "Murderbot" (Apple TV+), outro raro caso televisivo em que menos pode ser mais.

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O arranque também se sai bem no contraste entre o tom bucólico e sinistro, com a serenidade veraneante a ser repentinamente interrompida por acessos de paranóia e terror - e a deixar no ar que Yoshiki talvez não seja o único na sua comunidade a aperceber-se da transformação insólita do amigo.

Apesar deste ambiente de suspense com eventuais sustos, a série começa por conquistar pelas cenas intimistas de uma amizade interrompida, reavaliada e reiniciada, deixando questões sobre identidade, confiança, dependência ou solidão - e com o fardo particularmente pesado de uma escolha difícil na entrada na idade adulta. Hikaru morreu, sim, mas parece estar a nascer aqui uma bela história...

O primeiro episódio de "O VERÃO EM QUE HIKARU MORREU está disponível na Netflix desde 5 de Julho. Os restantes estreiam-se na plataforma nos próximos sábados.