Um álbum para dizer adeus ao Verão? O sol raramente brilhou nas canções de TR/ST e a nova colheita do projecto de Robert Alfons não promete mudanças nesse sentido. Pelo contrário: "PERFORMANCE", o quarto longa-duração do canadiano, é descrito como uma mistura de temor e abandono, entre sintetizadores nebulosos e poluição urbana.
Continua a haver espaço para alguma luxúria neste universo, é verdade, mas em modo melancólico, avança a Dais Records, casa recente de um dos nomes mais singulares da pop electrónica (facção turva, já se percebeu) dos últimos anos.
Sucessor do álbum duplo "The Destroyer" (2019) e do pouco memorável "TR/ST EP", editado em Janeiro, "PERFORMANCE" foi gravado em Los Angeles e coproduzido com Nightfeelings. Composto por nove temas, chega esta sexta-feira 13 (data mais apropriada seria difícil), um dia especialmente concorrido ao também trazer novidades sugestivas de Nilüfer Yanya, Tindersticks, Clark, julie, Foxing ou Allegra Krieger.
O título do disco inspira-se num comentário de um amigo de Alfons sobre a sua natureza "intrinsecamente performativa". E talvez por isso, o cantor e produtor protagoniza o videoclip do novo single, também ele intitulado "PERFORMANCE", no palco de um bar inesperadamente decadente. Canção etérea e hipnótica, não alarga uma linguagem que continua a ter nos primeiros dois capítulos ("TRST", de 2012, e "Joyland", de 2014) os seus momentos mais aliciantes, mas é a melhor amostra de um álbum que foi sendo revelado com "Soon", "All At Once" e "Dark Day".
Embora só agora chegue ao álbum, a história dos FAT DOG já soma quatro anos e começou a ser escrita nos palcos. O quinteto londrino ganhou reputação como uma das novas bandas britânicas mais incendiárias ao vivo depois do confinamento, abriu para gente como Viagra Boys ou Yard Acts e entrou pela porta grande na altura de revelar o primeiro single.
"King of the Slugs", editado no Verão de 2023, foi um petardo de sete minutos que confirmou o grupo como adepto da vertente mais febril do pós-punk, mas que não se ficou por aí. Os singles que se seguiram também se atiraram ao techno e ao industial, ao dance punk e à EBM, num emaranhado de referências que parece abarcar os IDLES e os Prodigy, Presets e The Faint, esboçando ainda o rumo que os Fontaines D.C. poderiam ter trilhado no recente "Romance" caso não se tivessem desviado das pistas de "Starbuster".
"WOOF.", o disco de estreia, chega finalmente esta sexta-feira, 6 de Setembro, através da Domino, e traz os créditos do sempre ocupado James Ford (Arctic Monkeys, Depeche Mode, Wet Leg ou... Fontaines D.C.) na produção, partilhada com o vocalista Joe Love. Contando com apenas nove faixas (e a última tem menos de um minuto de duração), não será um registo muito surpreendente para quem está familiarizado com o grupo, tendo em conta que cinco temas já foram singles.
Por outro lado, quem ainda não esbarrou em canções musculadas e insistentemente frenéticas como "Wither" ou "All the Same" ("I am the King" é a excepção que confirma a regra) encontrará aqui uma das revelações da rentrée. E se esses avanços fazem estragos assinaláveis, "RUNNING" impõe-se como pico desta obra em construção, com potencial para se tornar devastadora em palco - esperemos que haja algum em Portugal nos próximos tempos...