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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Coimbra tem mais encanto na hora deste reencontro

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VICTOR TORPEDO é um sério candidato a artista nacional mais prolífico de 2023. O antigo guitarrista dos Tédio Boys e dos The Parkinsons comprometeu-se a editar um álbum por mês ao longo do ano (!), através da Lux Records, assumindo também as capas, a gravação ou os videoclips, e tem-se mostrado à altura dessa ambição.

A aventura do veterano do rock (e não só) conimbricense começou com "Junk DNA + Strip Jazz Greats", em Janeiro, disco sucessor do recomendável "Punk/Pop and Soft Rage" (2021), e continuou com "Cut Ups", em Fevereiro, "Sketchs 1 + Straight to Tape (Demos for Nothing)", em Março, e "Wild Life", em Abril.

O registo mais recente, "TRACY VANDAL PLAYS VICTOR TORPEDO", editado em Maio, propõe uma viragem assinalável. Como o título indica, a interpretação foi entregue à vocalista dos saudosos Tiguana Bibles, outra banda da qual o guitarrista fez parte.

Feitas a pensar numa das vozes mais sedutoras de Coimbra e arredores, as canções retomam territórios pós-punk em tom melancólico, misterioso e aveludado, com os quais a artista escocesa que também já partilhou discos e palcos com a Jigsaw ou John Mercy se dá especialmente bem.

"MADE TO MEASURE", o primeiro single, não engana e vem juntar-se aos mais estimáveis nascidos por cá ultimamente. E às primeiras audições, os outros temas do álbum fazem-lhe justiça, numa colaboração que chegou sem aviso prévio mas em boa hora.

Duo ele & ele, segundo capítulo

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Além de formarem um casal, Roddy Bottum (teclista dos Faith No More e membro dos Nastie Band e Imperial Teen) e Joey Holman (ex-elemento da banda alternativa cristã Cool Hand Luke) tornaram-se cúmplices de um projecto que ganhou contornos artísticos e profissionais durante o confinamento.

A música que foram criando em conjunto levou ao surgimento dos MAN ON MAN, aventura a dois que se estreou com um álbum homónimo, em 2021, directamente inspirado na sua vida amorosa (e sexual, sem meias palavras), em experiências familiares (ambos perderam as mães no mesmo período) e em olhares muitas vezes críticos sobre a comunidade LGBTQIA+ (com a representação estereotipada de casais de homens gay entre os primeiros alvos).

"Provincetown", segundo disco com edição marcada para 16 de Junho, vem confirmar que esta aliança musical não foi um amor pandémico passageiro e tem mais relatos a partilhar. Gravado na cidade norte-americana que lhe dá título, por esta potenciar a amizade, crescimento e fertilidade criativa, explica o duo nas redes sociais, é um álbum que parte de uma relação cada vez mais estável para explorar questões como a homofobia internalizada, a fronteira entre o carnal e o digital ou formas de activismo sem deixar de lado a celebração do amor e do prazer que já ocupava várias canções do antecessor.

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Essa faceta mais livre, atrevida e espirituosa domina, aliás, o primeiro single, "SHOWGIRLS": "You gotta use spit/ If you wanna get used to it", recomenda a dupla entre um disparo de power pop certeira.

"TAKE IT FROM ME", outra conjugação de guitarras distorcidas e sintetizadores infecciosos, é descrita como uma carta de amor à História Queer e lança farpas ao oportunismo do "pink money" que tem seduzido marcas e empresas nos últimos anos ("Take it from me/ Poppers, disco 1980’s San Francisco", enumeram).

Menos imediata, "HUSH" retoma a esfera conjugal na letra e sublinha as heranças da escola indie rock dos anos 90 na sonoridade: o facto de ter J. Mascis como convidado na guitarra não será coincidência quando muitos riffs do disco de estreia deviam alguma coisa aos Dinosaur Jr. e outros baluartes de uma imensa minoria.

A caminho estão temas como "Piggy", "Haute Couture", "Gloryhole" ou "I Feel Good", cujos títulos sugerem o alargar de interesses de um segundo álbum que não parece ter sido muito difícil - e que pode vir a oferecer um dos oásis entre os lançamentos habitualmente pouco aliciantes do Verão.