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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Sim, ainda há discos a descobrir em Dezembro (pelo menos este)

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Dezembro costuma ser mais um mês de balanços anuais do que de novidades imperdíveis, mas em 2024 os KASSIE KRUT sobressaem enquanto excepções que confirmam a regra. O trio nova-iorquino edita o EP de estreia homónimo na próxima sexta-feira, dia 6, e é legítimo esperar o melhor: afinal, os dois singles já revelados, "RECKLESS" e "RACING MAN", não são menos do que brilhantes ao proporem uma combinação frenética de ecos industriais e apelo pop (electrónico), com tanto de tenso e urgente como de belo e hipnótico.

A alquimia sonora surpreende e entusiasma, embora não seja resultado de músicos estreantes, o que ajudará a explicar esta desenvoltura na exploração de ritmos insistentemente percussivos e atmosferas sedutoras. O casal Kasra Kurt e Eve Alpert fez parte dos Palm (banda de Filadélfia que se separou no ano passado ao fim de três álbuns) e por isso traz na bagagem uma experiência considerável entre o math-rock e o pós-punk. Matt Anderegg, o terceiro elemento, colaborou com os Body Heat ou Mothers como baterista e o seu percurso já se tinha cruzado com os Palm ao produzir o seu último disco, "Nicks and Grazes" (2022).

Kassie Krut EP.jpg

Inicialmente um projecto paralelo a solo de Kurt, nascido em 2019 e motivado por uma paixão pela música de dança mais desafiante, os KASSIE KRUT no seu formato actual juntam à lista de interesses o noise ou a hyper-pop, encontrando referências em nomes como SOPHIE, Kero Kero Bonito, Kim Gordon ou Dean Blunt. O gosto por texturas contrastantes abriu caminho para um EP que promete juntar o eléctrico ao acústico, o sintético ao orgânico, a suavidade à fricção, trazendo melodias baseadas em sons do quotidiano urbano, de alarmes de carros a toques de telemóvel. Quem pediu uma boa revelação para este Natal talvez não precise de ir mais longe...

Não é boato: esta é mesmo uma banda a ter por perto

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"Below the Waste", o terceiro álbum das GOAT GIRL, editado este Verão, não será o mais imediato da banda britânica, mas é dos que recompensam a insistência. Alargando o gosto  aventureiro da estreia homónima (2018) e "On All Fours" (2021), teve um aliado determinante no produtor John "Spud" Murphy (cujos créditos incluem Lankum ou Black Midi), foi gravado no Studio 13, de Damon Albarn, em Londres, entre outros espaços, e deve alguma inspiração ao experimentalismo dos Deerhoof e de Philip Glass, cujos discos vincaram o dia a dia da vocalista e guitarrista Lottie Pendlebury durante a escrita de canções.

Embora talvez demasiado longo, o alinhamento é o mais versátil do projecto londrino que começou por partir do pós-punk, da folk e do psicadelismo, piscou o olho à pop electrónica e se interessou, neste terceiro capítulo, por coros e arranjos de cordas tão sumptuosos como sinuosos sem abandonar caminhos já percorridos. "Sleep Talk" e "Wasting", temas que fecham o álbum com chave de ouro, serão dos melhores exemplos da nova colheita, mas há mais a descobrir destas sessões de gravação.

"GOSSIP" não chegou a integrar "Below the Waste" por estar mais próximo de referências distantes das que marcaram o disco - o grupo aponta os universos de Aphex Twin, Koreless ou Tirzah como influências directas - e é a primeira canção a contar com Ruby Kyriakides, o novo membro do trio tornado quarteto, tendo a seu cargo os sintetizadores (dominantes no tema, tal como os teclados).

Além do videoclip abaixo, realizado por Pendlebury, vale a pena espreitar aqui o documentário "The Making of Below The Waste | A Reality Breakdown Documentary", que se debruça sobre o processo multidisciplinar da criação do álbum e da forma como este transitou para os palcos - e falando neles, não seria nada mau poder ouvir estas canções ao vivo por cá.