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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

This 70's show

Depois de "Os Simpsons", "Family Guy" ou "Bob's Burgers", ainda há espaço para mais uma família animada no pequeno ecrã? "F IS FOR FAMILY", uma das apostas recentes da Netflix, mostra que sim.

 

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O pai trabalha, a mãe é dona de casa, os filhos, crianças ou adolescentes, debatem-se com os problemas típicos do crescimento. Esta premissa não será propriamente uma novidade, longe disso, mas a série do comediante Bill Burr e do argumentista Michael Price (que escreveu alguns episódios de "Os Simpsons") ainda sabe tirar partido dela, complementando-a com uma mão cheia de idiossincrasias.

 

Uma das diferenças de "F IS FOR FAMILY" face a propostas comparáveis é o facto de se ambientar nos anos 70, o que por si só lhe abre a porta para referências e piadas mais específicas, tanto pelo retrato geral de uma época como pela crónica de costumes familiares - sem com isso abdicar do politicamente incorrecto de outras famílias animadas, antes pelo contrário, como o provam os palavrões que condimentam muitas cenas, recurso que o argumento consegue não tornar gratuito.

 

O contexto, no entanto, não é tudo, nem seria motivo suficiente para acompanhar a série. E se ao primeiro impacto tudo o resto pode parecer algo rotineiro, com personagens desenhadas a traço grosso e relações mais ou menos convencionais, vai havendo um crescendo de intensidade e até originalidade ao longo dos seis episódios da temporada. Parte desse efeito explica-se pela continuidade entre os vários capítulos, com arcos narrativos mais longos do que o habitual em sitcoms (que geralmente os iniciam e fecham no mesmo episódio).

 

Situações como o dilema laboral de Frank, o pai, ou a crise existencial de Sue, a mãe, não se esgotam em vinhetas ocasionais e têm espaço para ganhar outro peso, tão cómico (com humor mais negro do que ligeiro) como dramático (às vezes, invulgarmente desesperado). O mesmo acontece com os subenredos dos filhos, mesmo que o do filho do meio, Bill, alvo de bullying (numa época em que o termo não era moda), seja mais forte do que o da revolta do mais velho, Kevin, ou o da filha, Maureen, a personagem menos explorada do quinteto protagonista.

 

Esta opção narrativa ajuda a fazer de "F IS FOR FAMILY" uma série razoavelmente mais realista do que marcos (e influências) como "Os Simpsons" ou "Family Guy" (estará mais perto do tom de "King of the Hill", por exemplo), o que lhe confere personalidade mas também a afasta da inspiração mais delirante dessas - além de não contar, pelo menos por agora, com personagens tão memoráveis, das principais às secundárias. Apesar disso, começa bem, tem potencial para melhorar e é um óptimo pretexto para uma noite de binge-watching.