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Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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Tropa de elite

Quase 15 anos depois do final de "The Wire", David Simon volta a percorrer as ruas de Baltimore para mergulhar na corrupção e brutalidade policial - desta vez a partir de uma história verídica. "WE OWN THIS CITY" é das apostas fortes da HBO Max e o primeiro episódio não esconde a herança da série mais aplaudida do seu criador.

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Depois de "Treme", "The Deuce" ou "The Plot Against America", David Simon regressa ao lugar onde foi feliz: às ruas de Baltimore, cidade na qual trabalhou como jornalista durante mais de uma década e que o inspirou a criar aquela que ainda figura no panteão das séries mais elogiadas de sempre: "The Wire (2002-2008, também disponível na HBO Max).

"WE OWN THIS CITY" é, à primeira vista, a criação do norte-americano mais próxima dessa antecessora influente, ao voltar a centrar-se nos bastidores de investigações policiais, embora desta vez partindo de um caso verídico - a corrupção de uma unidade de rastreamento de armas, documentada no livro "We Own This City: A True Story of Crime, Cops, and Corruption" (2021), de Justin Fenton, jornalista do Baltimore Sun (publicação onde Simon também trabalhou).

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Assinalando uma nova colaboração com o cúmplice habitual George Pelecanos, argumentista e escritor especializado em histórias de detectives, a nova aposta revela-se, no entanto, bastante mais concisa: se "The Wire" se estendeu ao longo de cinco temporadas, "WE OWN THIS CITY" fica-se por seis episódios. Mas nem por isso é menos ambiciosa: o primeiro capítulo apresenta longo uma ampla galeria de personagens, como já se tornou habitual nos relatos dos seus autores, e acompanha algumas delas em períodos temporais distintos (sobretudo em 2015 e 2017).

Optando por uma narrativa não linear à qual não faltam diálogos rápidos e vívidos entre interrogatórios, apresentações públicas, investigações e disputas maioritariamente verbais, o pode ser uma experiência desnorteante para o espectador que não lhe dedique a máxima atenção. Mas para já essa característica é mais feitio do que defeito, tendo em conta que Simon e Pelecanos acompanham a faceta fragmentada e intrincada com um elenco à prova de bala e uma aliança entre acção e palavra menos mecânica do que muitos thrillers adeptos do formato procedural.

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Jon Bernthal, um dos actores com mais tempo de antena neste arranque, é também dos mais memoráveis, na pele de um sargento tão intransigente como controverso. Wunmi Mosaku, a encarnar uma procuradora com um papel decisivo neste caso, continua a destacar-se como uma das revelações da idade do streaming depois de "Lovecraft Country" ou "Loki" (apesar de ter sido mal aproveitada nesta última). E grande parte do elenco não será estranho aos apreciadores da obra de Simon, já que estão por aqui muitas caras de "The Wire", "Treme" ou "The Deuce" (ou de "Show Me a Hero", onde Bernthal participou), caso de Jamie Hector, Darrell Britt-Gibson, Rob Brown ou Don Harvey.

Tudo em família? Quase. Reinaldo Marcus Green, que realizou os seis episódios da minissérie, é novo neste universo. Mas já passou por uma das sucessoras espirituais de "The Wire" ao dirigir três capítulos de "Top Boy", uma das séries obrigatórias da Netflix, ancorada no submundo londrino e a valer-se de um realismo e sentido de detalhe à altura da melhor escola de Simon. Se o norte-americano se tornou mais conhecido por "King Richard: Para Além do Jogo" (2021), o filme que deu o Óscar de Melhor Actor a Will Smith (também disponível na HBO Max), os seus talentos são mais bem empregues em retratos crus e turvos como o dessa produção britânica ou de "WE OWN THIS CITY". Agora é esperar que a escrita de Simon e Pelecanos leve a sua câmara ágil a bom porto...

O primeiro episódio de "WE OWN THIS CITY" está disponível na HBO Max desde 26 de Abril. A plataforma de streaming estreia novos capítulos todas as terças-feiras.