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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Um álbum a repescar da colheita inicial de 2023

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Há precisamente 20 anos, LIELA MOSS começou por se fazer ouvir ao lado dos Duke Spirit, dos quais continua a ser vocalista apesar de a banda não editar um álbum desde 2017. Mas de então para a britânica também comandou, com uma voz tão aveludada como imponente, canções dos UNKLE, Massive Attack ou da parceria entre Nick Cave e Warren Ellis, algumas das colaborações que foi acumulando pelo caminho.

Em paralelo, tem-se afirmado como compositora num percurso a solo iniciado em 2018, com "My Name Is Safe in Your Mouth", disco assente numa folk sumptuosa e orquestral. A elegância de pianos e cordas dessa estreia contrastou com o registo sucessor, "Who the Power" (2020), guiado por uma synthpop turva e pela influência tutelar de Kate Bush. E é também o modo mais electrónico que domina "INTERNAL WORKING MODEL", terceiro longa-duração editado de forma demasiado discreta no início do ano, mas inteiramente merecedor de maiores atenções.

Destacando-se como o álbum mais consistente da sua autora, revela-se ainda o mais urgente e inquieto, tanto pela tensão industrial e gótica que instala nesta discografia como pelo olhar que lança sobre o lugar dos afectos (e da empatia em especial) num mundo pós-pandémico. Contando mais uma vez com Toby Butler na produção (seu marido e baixista dos Duke Spirit), a britânica consegue ser tão aguerrida como Kristin Hersh ou PJ Harvey enquanto desenha cenários de electrónica negra que podem lembrar Austra ou ARO.

O novo rumo resulta particularmente bem nos temas mais temas abrasivos, como "The Wall From the Floor", "Welcome To It" e sobretudo o tremendo "Come And Find Me", a merecer lugar cativo na lista de melhores canções de 2023. E desta vez o alinhamento inclui convidados, com contribuições bem-vindas: Jehnny Beth (das Savages) em "Ache In The Middle", um raro episódio contido; Dhani Harrison (filho de George Harrison) na bela despedida "Love As Hard As You Can"; e Gary Numan, nome determinante para estas visões pop sintetizadas, em "Vanishing Shadows", single que explora o instinto, o desejo e o (des)controlo e é uma porta de entrada convidativa para este universo: