Um álbum para abanar (e aliviar) a cabeça
O punk não morreu e em alguns casos não tem medo de juntar sensibilidade pop à raiva. O álbum mais recente de VICTOR TORPEDO é um deles e dá conta dessa combinação logo no título, o esclarecedor "PUNK/POP AND SOFT RAGE".
Sucessor de "Béri Béri", um dos discos nacionais que trataram bem as guitarras no ano passado, o quinto longa-duração a solo do músico dos Tédio Boys e The Parkinsons (que também já passou, entre outros, pelos Tiguana Bibles ou Subway Riders) é exemplo de uma fase que se tornou invulgarmente prolífica nos discos face às limitações dos palcos nos últimos meses. O veterano do rock de Coimbra garante que, além deste registo editado pela conterrânea Lux Records, gravou vários álbuns durante o confinamento e, para já, a música não deixa sinais de redundância criativa.
"Punk/Pop and Soft Rage" é pelo menos tão coeso como o antecessor e tanto aposta em palavras de ordem gritadas em refrãos orelhudos (com choques sociais ou económicos na mira) como nos cenários mais inesperados dos quatro instrumentais, que revelam outros horizontes além da escola punk (dos The Clash aos Sex Pistols) e estão entre os melhores episódios do alinhamento.
TORPEDO não abdicou da filosofia do it yourself e tocou todos os instrumentos em casa, tendo tido apenas a colaboração de João Rui (vocalista dos a Jigsaw) na mistura. "PROBLEM IN MY HEAD", o bem sacado novo single, é um dos temas que olham de frente para o desnorte mental trazido pela pandemia e leva o delírio mais longe no videoclip de Sebastião Casanova: