Um arranque com prego a fungo
É a série do momento e promete ser das que vão marcar o ano: "THE LAST OF US" estreou-se a bater recordes na HBO Max, volta a colocar mundos pós-apocalípticos no centro da cultura pop e quer mudar o estigma das adaptações de videojogos. Felizmente, diz logo ao que vem no primeiro episódio...
Planeada e aguardada há muito, a adaptação de um dos videojogos mais aplaudidos de sempre chegou a ser pensada como filme (produzido por Sam Raimi) mas acabou por ganhar a forma de uma série com uma primeira temporada de nove capítulos. Não falta quem garanta que "THE LAST OF US", uma das grandes apostas das plataformas de streaming de 2023, é a saga que vem dignificar, de vez, as adaptações de videojogos para televisão e cinema. Só que o patamar de excelência nesse departamento até já foi atingido recentemente, em "Arcane" (2021), preciosidade inspirada em "League of Legends" que a Netflix não soube (ou não quis) valorizar.
A HBO, por outro lado, encara a sua série como uma das galinhas dos ovos de ouro do ano não se deu mal numa estreia que bateu recordes esta semana. Criada por Craig Mazin (de "Chernobyl", que também realiza alguns episódios) e Neil Druckmann (autor do videojogo) e protagonizada por Pedro Pascal e Bella Ramsey (duas estrelas reveladas numa das sagas-chave da casa, "A Guerra dos Tronos"), tem logo aí quatro trunfos aos quais se juntam qualidades evidentes no primeiro episódio.
Não é preciso ser fã da versão jogável desta história (nem sequer conhecê-la), para entrar sem dificuldades neste universo pós-apocalíptico, tendo em conta que o capítulo inicial é um exemplo de eficácia de escrita, realização e narrativa. Embora o episódio dure mais de uma hora, a meio já se tornou envolvente pelo olhar sobre um pai e uma filha (e um tio com menos protagonismo) que testemunham o momento de viragem de um mundo à beira do caos. Mérito de Pedro Pascal e da jovem Nico Parker (Bella Ramsey só surge mais à frente), desde logo, que estabelecem uma relação na qual se acredita de imediato, e de um argumento que dá espaço às personagens antes de as atirar para situações-limite.
Na segunda metade do capítulo inicial, as consequências dos avanços de um fungo devastador ganham contornos mais reconhecíveis, já que, apesar de alguns pormenores peculiares, "THE LAST OF US" arrisca confundir-se com mais um spin-off de "The Walking Dead" (ainda que ninguém traga a palavra zombie para a conversa).
Mas há muitas outras aproximações possíveis: tanto o pouco visto "Luz da Minha Vida" (filme bem curioso de Casey Affleck), como "Station Eleven" (outra série recente da HBO Max, infelizmente sem um décimo da projecção desta) colocavam um homem adulto e uma adolescente entregues a uma distopia, e o segundo caso arrancava de forma mais imaginativa do que a proposta de Mazin e Druckmann.
De qualquer forma, uma série não tem de ser um prodígio de originalidade para convencer ou empolgar e "THE LAST OF US" começa logo por deixar algumas cenas fortes na retina (do prólogo que ganha outra ressonância num contexto pós-pandémico a uma fuga trepidante num automóvel). E também deixa uma (grande) canção no ouvido, das melhores dos anos 80, que faz todo o sentido recuperar para inaugurar esta jornada promissora.
O primeiro episódio de "THE LAST OF US" está disponível na HBO Max desde 16 de Janeiro. A plataforma de streaming estreia novos capítulos todas as segundas-feiras.