Um brinde à amizade
Alessio Natalizia iniciou-se na música através do pós-punk, em algumas bandas italianas, mas foi desviando os interesses para a exploração electrónica quando se mudou para Londres, em 2008, através da aventura a solo Banjo or Freakout e sobretudo dos Walls, dupla formada ao lado de Sam Willis e editada pela Kompakt.
Nos últimos anos, no entanto, o músico e produtor italiano tornou-se mais conhecido enquanto NOT WAVING, projecto individual que abre a porta a colaborações frequentes com uma curiosidade sonora que tanto vai à EDM como ao drone, ao electro ou ao industrial, numa história que já soma mais de uma dezena de lançamentos, entre álbuns e EPs - e a cargo de uma editora própria, a Ecstatic.
O novo álbum, "How to Leave Your Body", não só continua a alargar horizontes como até chega a tornar-se irreconhecível, com aquele que será o alinhamento mais meditativo da discografia de Natalizia, às vezes a lembrar antes a música de Apparat ou a faceta mais contida de Tensnake (ainda que não deixe de fora o apelo à dança).
Entre faixas instrumentais e outras com vozes convidadas (algumas já colaborações regulares, como Mark Lanegan ou Jim O'Rourke), está longe de ser dos seus registos mais imediatos, e só a turbulência percussiva de "Define Normal" remete para a tensão de outros tempos. Mas também está por aqui pelo menos uma das grandes canções da sua obra. Depois de ter colaborado com a canadiana Marie Davidson no frenético "Where Are We" (2017), NOT WAVING voltou a chamar a vocalista dos Essaie pas para um single nos antípodas desse e o que melhor traduz a atmosfera serena q.b. do novo disco.
Quase sempre em registo spoken word, "HOLD ON" é uma brilhante conjugação de voz, composição, produção e storytelling, ao oferecer a crónica de uma amizade juvenil numa viagem de pop electrónica envolvente (e a incluir alguns sintetizadores de reminiscências trance pelo caminho). O videoclip, realizado por Angelo Cerisara, faz-lhe inteira justiça e ilustra a narrativa ao seguir três amigos na estrada, em clima de último Verão da adolescência, com toda a cumplicidade e liberdade a que ainda têm direito: