Um cantor que toca guitarra e fala francês
BAPTISTE W. HAMON começou por se interessar pela escrita de canções ao ouvir Leonard Cohen, Bob Dylan ou Townes Van Zandt com devoção, mergulhando desde cedo numa herança musical onde as palavras são mais do que mero acessório. Mas foi ao descobrir a obra de nomes seus conterrâneos - de Jacques Brel a Barbara - que o cantautor francês cruzou universos rumo a uma linguagem própria, tão devedora da country e da folk como da chanson.
O álbum "L'Insouciance" (2016), gravado em Nashville, confirmou as esperanças de quem o apontava como um dos nomes a seguir da nova música francófona, depois de três EPs que despertaram as primeiras atenções. E "Soleil, soleil bleu", o segundo longa-duração, editado este ano, não trai as suas qualidades de compositor, músico e intérprete, sobretudo nos temas nos quais canta na sua língua materna (uma escolha cada vez mais dominante após um início de carreira vincado pelo inglês).
Will Oldham (AKA Bonnie Prince Billie), outro dos seus heróis, volta a dar-lhe a benção e a legitimar o seu legado da tradição americana, acompanhando-o numa das faixas depois de ter participado no álbum anterior. E a junção de referências dos dois lados do Atlântico mantém-se inspirada tanto na música como nas imagens, como o atestam os videoclips dos singles "JE BRÛLE" (talvez a grande canção do álbum), "COMING HOME" e "BLOODY MARY", para ver e ouvir abaixo. Um nome a juntar à colheita francesa do ano, que discos de gente como Alex Beaupain, Irène Drésel, Alice et Moi ou Requin Chagrin ajudaram a tornar proveitosa (e que bem merece investigação mais a fundo).