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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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Uma história de amor e luto

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Um dos álbuns mais promissores do ano chega já no final do mês. FOR THOSE I LOVE, alter ego musical de David Balfe, edita o disco de estreia homónimo no dia 26, depois de uma mixtape impressionante, "Into A World That Doesn't Understand it, Unless You're From It" (2020), e de três singles que revelaram o irlandês como uma nova voz a ouvir - e com muito a dizer.

"For Those I Love" é a catarse criativa de uma infância e adolescência passadas nos subúrbios de Dublin, numa família da classe trabalhadora, com um contraste recorrente entre o amor que o autor sentia em casa e a violência que marcava o bairro. O corpo da vítima de um homicídio deixado na sua rua quando tinha seis anos está entre as suas primeiras memórias, vincou o primeiro contacto com a morte e inspira uma das canções. Mas a tragédia mais evocada ao longo do alinhamento do álbum é a de Paul Curran, ex-colega de uma antiga banda punk local que era tido como um amigo para a vida... até se suicidar em 2018. Dos meses de luto que se seguiram, passado num recolhimento quase absoluto em estúdio, nasceram mais de 70 canções - e com apenas nove a serem escolhidas para o disco.

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"There's no way to put our loss into words", entoa o irlandês de 29 anos em "Birthday / The Pain", mas da tentativa resultou uma canção que, num mundo justo, seria um dos hinos de 2021. Da festa ao luto, de vozes soul sampladas às palavras cruas de Balfe (em modo spoken word e com um sotaque cerrado), o novo single é mais um exemplo do que parece ser um cronista urbano nato cuja arte é directamente enformada pela vida. Essa verdade tem passado pelos outros temas de avanço, relatos de solidão e fratenidade, injustiça e resiliência, angústia e esperança, com o discurso integrado num novelo devedor do grime ou do hip-hop, estilhaços techno ou house - aos quais se ainda junta nervo punk nas entrelinhas, sobretudo no mais engajado "Top Scheme".  

The Streets, Arab Strap, Audio Bullys ou os mais recentes Real Lies serão alguns parentes próximos desta linguagem, ou até eventuais influências, mas FOR THOSE I LOVE tem deixado um olhar singular sobre uma vivência, uma geração e uma comunidade. Estas imagens de um universo particular merecem eco universal e já há quem lhes tenha dado palco: a BBC está atenta e Jools Holland ofereceu a estreia televisiva, no final do ano passado - uma aposta ganha através de uma actuação tão assertiva como comovente.

A consolidar as primeiras impressões positivas, os três videoclips já divulgados (dois deles realizados pelo próprio Balfe) conjugam memórias pessoais e ecos do realismo britânico, com vinhetas brilhantemente filmadas e fotografadas a preto e branco. Grande revelação, enorme expectativa quanto ao álbum: