Verão azul (e verde, rosa ou dourado)
O flirt de BETH ORTON com a electrónica já vem de longe, desde que a britânica começou por juntar trip-hop e folk nos primeiros álbuns, "Superpinkymandy" (1993) e "Trailer Park" (1996), numa altura em que também deu voz a canções dos Chemical Brothers ou William Orbit. Mas depois da viragem do milénio, os seus discos tornaram-se cada vez mais acústicos, até pastorais, a milhas das influências da música de dança que ajudaram a fazer dela uma das cantautoras a seguir nos anos 90.
Embora "Comfort of Stangers" (2006) ou "Sugaring Season" (2012) não tenham sido desilusões, ameaçavam deixá-la demasiado acomodada a um registo menos singular, encaminhando-a para uma evolução na continuidade. Ou assim parecia até ser anunciado "Kidsticks", o novo álbum, agendado para 27 de Maio e co-produzido por Andrew Hung, metade dos Fuck Buttons e mentor do projecto Blank Mass (autor de um dos discos mais recomendáveis do ano passado).
"Moon", o primeiro tema de avanço, já tinha mostrado que a colaboração podia ser proveitosa ao apostar num tom mais atmosférico, trocando a guitarra acústica por sintetizadores espaciais. Igualmente promissor, "1973" continua alicerçado na indietronica, mas em moldes mais lúdicos e arejados, apelando à dança enquanto recorda a infância em tempo estival - e essa faceta soalheira chega a lembrar a viragem pop de Cat Power em "Sun" (2012). Também não falta sol no videoclip, filmado na Califórnia (estado no qual o disco nasceu) pela fotógrafa Tierney Gearon, que afasta ainda mais Beth Orton da serenidade folk dos últimos anos: